sábado, 20 de julho de 2019

Aposentadoria - André Azevedo (SP)


O Atleta das Seleções Paulista e Brasileira da JKA e Tradicional, André Azevedo, o "Andrézão" como é chamado com muito carinho por seus amigos, iniciou a prática do Karatê no interior de São Paulo aos 9 anos de idade, com uma interrupção na adolescência e posterior retorno com seu atual Sensei, Wagner Pereira, aos 23 anos, na cidade de Pederneiras. 

Começou à competir em meados de 1997, faixa verde e se graduou em 2002, obtendo 1° Dan pela CBKT e JKA. Atualmente é 3° Dan em ambas as instituições. 

André integra a Seleção Paulista Tradicional desde 2005. Representou a Seleção Brasileira JKA no sulamericano de 2013 (Paraguai) e no mundial de 2014 (Japão). Fez 4 lutas pela Seleção Brasileira JKA.

Seus principais títulos:
Vice-Campeão sulamericano JKA de kumite por equipes (2013)
Tetracampeão Brasileiro JKA de kumite por equipes  
Tetracampeão paulista Tradicional de fukugo 
Tricampeão Paulista Tradicional de Kumitê 

Ao longo desses 22 anos de carreira, Andrézão conquistou o carinho e respeito dos adversários. 
Vai fazer muita falta..

OSS!

quarta-feira, 17 de julho de 2019

II Campeonato Brasileiro Unificado de Karate











Aconteceu, nos dias 13 e 14 de julho de 2019, o II Campeonato Brasileiro Unificado de Karate.
O mega evento foi realizado no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
A ideia do Unificado surgiu com o objetivo de colocar o karate nas Olimpíadas. Em 2015, foi realizado o primeiro Mundial Unificado, e em 2016 o primeiro brasileiro. Logo depois a WKF foi oficializada como participante nos Jogos de 2020, e a ideia do unificado sofreu um baque. Mas recentemente saiu a notícia que o karate não será mais um esporte olímpico a partir dos Jogos de 2024. Então, a ideia do Unificado ganhou força novamente.

O sistema da competição é assim: três diferentes tipos de competição, com suas regras próprias, acontecem simultaneamente. O karate geral, com regras de pontos múltiplos (regido pela Confederação Brasileira de Karate Interestilos); o karate de contato, com regras do Kyokushin; e o karate Tradicional, regido pela CBKT

Quando cheguei no Ibirapuera fiquei muito impressionado com a estrutura. O ginásio inteiro estava coberto de tatames: eram 12 kotos!
Havia banners gigantes espalhados por todos os lados, e um telão onde as disputas eram transmitidas ao vivo. As arquibancadas estavam lotadas. Havia cerca de 700 atletas das três diferentes organizações. As filmagens eram feitas com um drone e uma câmera presa a uma grua. Muito profissional!

Para o público, é um evento excelente de se assistir, porque você pode escolher o que ver. Se quer kata, enbu ou kata equipe; se gosta de kumite rápido e versátil da regra multipontos; se prefere a trocação franca e pesada do kyokushi; ou se acha mais interessante as lutas mais estudadas do Tradicional. Tinha karate para todos os gostos.

As disputas do karate Tradicional foram muito acirradas, e o nível estava muito alto. Diversos atletas presentes fazem parte ou já fizeram parte das seleções do Tradicional e da JKA.

No feminino, Martinna Rey (BA) mostrou imensa qualidade técnica, kime e espírito para conquistar o título do kata individual.
No fukugo, a grande final contava com duas atletas da Seleção: Martinna e Suellen Souza (PR).
A luta estava muito tensa e estudada, mas quando Martinna atacou, Suellen fez o golpe que é sua marca registrada, e que ninguém no Brasil (masculino ou feminino) consegue fazer tão bem: puxou a perna da adversária com sua perna da frente, derrubando-a e marcando um belo ipon.
No kumite, Suellen mostou que está imbatível, derrotando na semi- final a atleta da Seleção Brasileira JKA Sara Ladeira (SP). Na final, derrotou a paranaense Fernanda Carreiro.
Na disputa por equipes, São Paulo ficou com o título após disputas muito aciradas contra a equipe do Paraná.

No masculino, o paranaense Jean Laure, atual campeão Sul-Sudeste de kata, provou que vem em ótima fase na modalidade, sagrando-se campeão de kata individual, deixando Andrw Marques (SP), diversas vezes campeão brasileiro JKA, com a prata.
No fukugo, Jean sentiu uma lesão no joelho, e foi derrotado em sua primeira luta. na grande final, César Cabral (SP) derrotou o excelente Caetano da Silva (PR).
No kumite individual as lutas eram verdadeiras batalhas.
Nas semi-finais, de um lado Jayme Sandall (RJ) venceu Anderson Berne (SP) na luta de desempate, com um mae geri. Do outro lado, Rodrigo Arita (SP) perdeu no detalhe para Nathan Malavazzi (RJ)
Na final, uma luta tensa. O placar estava em 1x1 quando Nathan atingiu Jayme com um soco muito forte que abriu um corte profundo. O sangue desceu em profusão. Nathan foi desclassificado, e Jayme declarado campeão.
Na disputa por equipes, o Rio de Janeiro passou na semi-final pela forte equipe do Paraná, enquanto São Paulo vencia a Bahia.
A final só aconteceu no domingo, e a equipe carioca perdeu Jayme, com a lesão no olho.
Mas a equipe não se abalou, e com uma estratégia perfeita empatou as duas primeiras lutas: Diogo Yoshida (RJ) vs César Cabral (SP) e Leonardo Riveiro (RJ) vs Jaime Jr (SP). Na última luta, Nathan Malavazzi venceu o paulista André Azevedo e deu o título para o Rio de Janeiro.


Abaixo, o meu relato do que aconteceu a partir da pancada:

"A luta estava complicada. Para os dois. Um wazari para cada lado, e quem marcasse o próximo ponto seria campeão. E os dois queriam muito o título. De repente ele ataca. Eu tento um deai, mas ele abaixa a cabeça e minha mão do gyako passa reto. Ele abaixa ainda mais a cabeça e dá um soco por cima (parecido com um overhand). E eu sinto uma dor que jamais senti na minha vida! Alguma coisa muito séria tinha acontecido. Imediatamente ele me abraça e fala: 'pegou! Ah não!'
Ele também se assustou com a força da pancada.
Foi completamente sem querer. Um acidente.
A dor aumetou tanto que fui ao chão. O sangue escorria pela minha cara. Muito sangue.
Deitei, e o sangue escorreu pela minha cara entrando no outro olho. Eu não via mais nada. Saía sangue pelo nariz também. Fiquei assustado.
Em cima de mim, médicos, colegas karatecas. Era muita gente.
De repente dei um grito para que todos saíssem.
- Eu entrei sozinho, vou sair sozinho.
Levantei devagar, cumprimentei o árbitro e fui levado para o atendimento.
- Vai ter que levar pontos - disse o médico.
Tudo bem. Isso não tem problema. Mas a dor estava me matando...
Tiraram minha parte de cima do kimono, cheia de sangue, e começaram a limpar minha cara. Eu seguia sem enxergar.
De repente ouvi a chamada para a premiação do kumite individual. Ouvi meu nome como campeão. E aquilo me atingiu com força. Não sei explicar por que, mas me incomodou demais eu estar todo arrebentado, sendo atendido, e ao mesmo tempo ter sido campeão.
- Tudo bem, eu vou tomar os pontos. Mas depois, porque agora vou para o pódio - eu disse para o médico, que já estava ficando irritado comigo.
As pessoas me ajudaram a colocar meu kimono, e colocaram uma faixa em mim, emprestada - a minha estava caída em algum lugar.
Caminhei enxergando um pouco melhor depois que tiraram o sangue da minha cara.
Nathan estava chorando, se sentindo péssimo pelo acidente.
- Nathan, você vai subir no primeiro lugar e eu no segundo - eu disse, e ele me olhou perplexo.
- Não!
- Vai sim - repeti.
- Oss - ele respondeu depois de hesitar e vendo que eu estava inflexível.
E assim foi. Ele recebeu a medalha de ouro e eu a de prata.
Por que eu fiz isso? Nem eu sei. Não estava pensando, raciocinando. Apenas segui meu coração, meus instintos.
Não sou santo, bonzinho, e nem estava querendo ter uma atitude nobre e digna. Nada disso.
Eu segui meus instintos, que gritavam comigo: você não pode ser campeão assim! Não desse jeito!

Tenho 393 lutas oficiais em competições, e jamais havia vencido uma por hansoku. Jamais havia vencido por desclassificação do meu adversário depois dele me acertar um golpe devastador desse. Isso mexeu comigo, me deixou mal. Me deixou péssimo, na verdade.
Eu não fiz isso por ser superior e reconhecer a vitória do adversário. Não sou tão digno assim... fiz por reconhecer para mim mesmo a minha derrota, porque era assim que eu estava me sentindo na hora: derrotado. Não fiz pelo meu adversário, fiz por mim.
Para mim, apesar dos resultados oficiais me declararem campeão, me considero vice. E com orgulho de ter chegado na final de uma competição tão difícil.
OSS"

RESULTADOS

FEMININO

Kata por equipes: 1) SP / 2) PR

Kata individual: 1) Martinna Rey (BA) / 2) Suellen Souza (PR) / 3) Sara Ladeira (SP)

Fukugo: 1) Suellen Souza (PR) / 2) Martinna Rey (BA) / 3) Ana Cherly (CE) - 3) Sara Ladeira (SP)

Kumite por equipes: 1) SP / 2) PR

Kumite individual: 1) Suellen Souza (PR) / 2) Fernanda Carreiro(PR) / 3) Ana Cherly (CE) - 3) Sara Ladeira (SP)


MASCULINO

Kata por equipes: 1) SP / 2) BA / 3) PR

Kata individual: 1) Jean Laure (PR) / 2) Andrew Marques (SP) / 3) Rodrigo Arita (SP)

Fukugo: 1) César Cabral (SP) 2) Caetano da Silva (PR)

Kumite por equipes: 1) RJ 2) SP / 3) PR - 3) BA

Kumite individual: 1) Nathan Malavazzi (RJ) / 2) Jayme Sandall (RJ) 3) Anderson Berne (SP) - 3) Rodrigo Arita (SP)


segunda-feira, 1 de julho de 2019

Para que competir?

Para que competir?
É difícil. É uma verdadeira maratona.
Você se inscreve, e passa semanas pensando naquela data específica, quando você terá que se apresentar diante de muita gente.
A data vai se aproximando, e seu nível de ansiedade aumenta.
Na noite anterior, fica difícil dormir. O coração acelera, e a cabeça não para.
Chega finalmente a data. Você perfila para o cumprimento inicial, ouve os discursos e homenagens, e finalmente vai começar. Mas até chegar a sua categoria, são horas de espera. Horas dentro de um ginásio, desconfortável, sem se alimentar direito, sentindo a ansiedade subir até um nível quase insuportável.
Não chega a sua hora!

E finalmente, chamam seu nome.
Depois de muita espera, chega a sua vez de competir, de colocar em prática tudo aquilo que você treinou exaustivamente, repetidamente, durante tanto tempo.
E para quê?
Você não ganha dinheiro nenhum. Muitos conhecidos te perguntam: "quanto você ganha nessas competições?"
E quando você responde, com uma pontada de timidez: "nada", você repara um olhar de reprovação.
Você percebe que a pessoa pensa: "mas para que então competir se não ganha nada? Não vale nada..."

Não adianta tentar explicar. Dificilmente quem nunca passou por isso vai compreender.

O ganho é infinitamente mais importante do que financeiro. É ganho pessoal, de satisfação interna, de auto-confiança, auto-estima. É a realização plena.

Quando você faz o kata da melhor forma possível, e no cumprimento final, ainda respirando rápido e sentindo o suor escorrer pelo rosto você pensa: "consegui!". As notas sobem e você sabe que venceu! Não há nada no mundo que se compare.

O curioso é que as pessoas entendem alguém que gasta muito tempo e dinheiro fazendo terapia, ou investindo em uma viagem. Coisas que vão trazer satisfação e felicidade. Coisas que todo mundo paga para ter. E paga caro.
No nosso caso, o que nos satisfaz, a nossa terapia, são as competições.
Nem precisamos ganhar dinheiro. Seria bom, claro, mas na verdade fazemos pelo prazer incomparável.

Quando você encaixa aquele golpe limpo, e o adversário balança, e você sabe que acabou de vencer a luta; quando o árbitro central ergue a mão para você. Isso é inexplicável. A sensação é indescritível.

As derrotas doem, claro. Mas elas são o caminho para as vitórias. Perder mantém a esperança viva, e ganhar é a satisfação máxima.

A simples sensação de ter competido, de ter tido a coragem e a resistêcia física e psicológica de enfrentar esse desafio até o final: isso vale mais do que ouro.

OSS!