É difícil de explicar os sacrifícios
que um atleta de karate passa.
Parece exagero, parece que quero
enaltecer os atletas elevando-os acima do que eles realmente são. Mas não é
isso.
A verdade é que é preciso muito
mais do que simplesmente querer ser atleta, competir em alto nível, chegar até
o topo. É preciso um desejo que beira a insanidade, uma vontade maior do que se
pode imaginar. É preciso estar disposto a ir muito além das suas forças, muito
além da fé das pessoas ao seu redor.
É enfrentar as adversidades sem
se deixar abater, é conviver com as dores, com a descrença, com a incerteza. É
estar preparado para treinar durante seis meses, seis dias por semana, deixando
de lado prazeres, festas, amigos, correndo o risco de ver a competição acabar
em vinte segundos, com um ipon a favor do adversário.
Ser atleta de karate é isso tudo
e muito mais.
É deixar a família em casa,
enfrentar o olhar triste da esposa, dos pais, ou filhos, para viajar em busca
de um objetivo.
É correr atrás de patrocínio e
ouvir mais vezes a palavra “não” o que a maioria das pessoas ouve durante toda
a vida.
É sentir medo e seguir adiante.
É se cobrar mais do que qualquer
pessoa cobraria você, é tentar do fundo do coração chegar o mais longe
possível, explorar seus potenciais até o limite, espremer cada gota de
capacidade, fazer coisas inacreditáveis.
E ainda por cima ter que
responder à pergunta incômoda que ronda a todos nós: “o que você está ganhando
com isso?”
Talvez seja difícil de
compreender, mas dinheiro não é tudo na vida. Nem fama. E se o karate
Tradicional ou JKA não é alvo dos holofotes, nem dá prêmios maravilhosos em
dinheiro, e se tudo o que se ganha são medalhas simples, ou muitas vezes
absolutamente nada, a satisfação pessoal é imensurável.
Então, tudo valeu a pena, as
viagens sem fim, as horas de espera nas arquibancadas desconfortáveis dos
ginásios, as lutas duríssimas, as dores constantes.
Então, no fim, ao olharmos para
trás, teremos certeza absoluta de que faríamos tudo de novo.
OSS.
2 comentários:
Jayme, tenho amigos no trabalho, que nunca fizeram nenhuma arte marcial (ou esporte) seriamente que brincam comigo pela minha atitude diante das coisas e dizem "O Piolla tem espírito de competidor".
Eu digo que não, mas de certa forma eles estão certos.
Só quem viveu tudo isso que descreveu sabe como é e, pra esses não é preciso explicar. Até porque é uma busca individual...
Na vida VC vai encontrar vários tipos de pessoas e o pior deles é o "âncora". Ele não se move e quer que VC não se mova. É o tipo que tenta te desmotivar, como se isso fosse possível.
Motivação é como educação, agente traz de casa! E aí agente sai arrancando as âncoras do nosso caminho ou até transformando elas em hélices.
Como disse Osaka Yoshiharu Sensei, "Go until saturation then push harder and go beyond".
Esse é o significado de OSS! Suportar a pressão!
OSS!
É exatamente isso, Marquinhos. Você sabe exatamente do que estou falando. Os professores que você teve exprimem exatamente essa essência real do Shotokan. Esse é o sentido real do nosso karate, que muitas pessoas esquecem. Ir além, apenas pela superação. OSS!!
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