sábado, 6 de julho de 2013
Faixas pretas demais
A popularização do karate foi uma faca de dois gumes ao longo das últimas décadas. Se de um lado foi bom, porque todo mundo queria praticar a luta mais popular do mundo, do outro isso gerou um comércio que encheu os olhos de gente que só queria ganhar dinheiro.
Os exames de faixa passaram a ser um negócio lucrativo, e muitos alunos ganhavam suas faixas não pelas habilidades desenvolvidas, mas sim para engordarem o bolo de dinheiro que o professor cobrava pelo exame.
Claro que existem inúmeros profissionais sérios, professores cujo único objetivo é o karate, pessoas que têm a responsabilidade de formar não só lutadores, mas pessoas melhores.
Mas a quantidade de maus profissionais cresceu vertiginosamente nas últimas décadas, e o resultado disso foi a formação de centenas, milhares de faixas pretas que não têm a mínima condição de carregarem tamanha responsabilidade.
Um faixa preta é uma vitrine da luta. Deveria ser um lutador excelente, dono de uma técnica diferenciada, que causasse admiração por parte de outros karatecas, e mesmo de leigos que o observassem treinar.
Infelizmente, o que vem acontecendo é exatamente o contrário...
Treinei com um atleta com mais de dez anos de muay thay nas costas. Lutamos, fizemos treinos de uchi komi (entradas combinadas), e chutamos aparadores. Ele é um cara sério, que aprendeu um muay thay de primeira linha, e que gosta muito de treinar e se colocar à prova competindo, tanto na sua arte marcial de origem quanto no mma.
Depois do treino ele me disse: "Jayme, vou ser sincero com você. Eu achava karate uma luta muito fraca. Depois de treinar com você que eu vi que é uma luta muito maneira!"
Será que é porque eu sou diferenciado? Ou muito melhor do que a maioria dos karatecas?
Nada disso.
É apenas porque a vida inteira treinei com professores sérios, com bagagem, história, anos e anos de treino e estudo do karate. Se esse lutador de muay thay tivesse treinado com qualquer aluno de professores como Machida, Sasaki, Watanabe, Tanaka, Inoki, Flávio Costa, Ugo Arrigoni, Enobaldo, Sergio Bastos, José Humberto, Zanca, Gilberto Gaertner, Alfredo Aires e tantos e tantos outros, com certeza ele teria a mesma impressão.
Voltando ao tema inicial: infelizmente a proliferação de faixas pretas que não têm a menor condição de portarem essa faixa é tão grande que hoje eles são maioria.
E agora, décadas depois dessas primeiras gerações de fracos faixas pretas serem formados, temos um fenômeno ainda pior: os grandes mestres (geralmente auto-intitulados) que de grandes mestres só têm o nome...
São os shihans, os mestres supremos, com muitos dans, que na verdade não conhecem nada de karate.
Isso serviu para denegrir demais a nossa arte marcial, que passou de ser considerada uma das mais fortes, para ser considerada uma das mais fracas.
Afinal, como um leigo poderá saber que com o professor Nilton Aurimar, por exemplo, ele terá um karate de altíssima qualidade, mas com um fulano logo ao lado ele não aprenderá nada?
Esse me parece ser um caminho sem volta. Por mais que as federações séria tentem controlar essa enxurrada de faixas pretas, hoje em dia fica impossível. Muita gente não tem um pingo de vergonha de arrumar suas faixas e seus dans sabe-se lá onde, e de quicar de federação em federação até arrumar uma que lhe confira os dans que deseja, mesmo sem merecer.
Fica aqui o recado, para os que desejam ingressar em uma academia de karate: tente pesquisar a história do professor que você escolheu. Hoje em dia a internet ajuda muito nesse ponto. Pesquise quem é o professor, a que federação ele está filiado, e qual a história dessa federação.
Dessa forma, lá na frente, você poderá verdadeiramente se orgulhar da faixa que usa na cintura.
OSS.
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Um comentário:
Ótima matária Jayme.
Oss
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