sexta-feira, 3 de março de 2017

Entrevista com sensei Juarez Alves


Sensei Juarez Alves, conhecido como Jacaré, é um integrante da Geração de Ouro do karate brasileiro.
Tricampeão norte-nordeste, campeão brasileiro (kumite individual) e campeão sulamericano (kumite por equipes)

Gentilmente ele me concedeu essa entrevista e compartilhou um pouco de sua história e de sua visão sobre a nossa arte marcial.

"Comecei o karate em 1966. Mas a finalidade naquela época era diferente de hoje em dia. O objetivo do treino era o karate como arma de combate. Na época os fuzileiros estavam viajando no exterior, então o karate foi adotado como arma de combate.
Depois de algum tempo é que passei a me interessar pelas competições.
Foi um pouco decepcionante na época, porque foi muita pancadaria! Dente arrancado, olho furado... foi uma verdadeira carnificina! Levei alguns amigos para me assistirem, e saí da competição todo arrebentado...!"

"Vi grandes lutadores em ação, mas não dá para citar o melhor de todos... Houve o Mori, o Tabata... depois Tanaka, Yamamoto, Yahara...

" Hoje em dia tem muita gente boa. Creio que mais ainda do que antigamente, quando eram menos"

"No Brasil, teve um lutador que não foi campeão, mas pela luta que fiz com ele no campeonato brasileiro, posso dizer que foi um dos melhores de todos os tempos: Dorival Caribé (BA). Era muito difícil mesmo lutar com ele! Havia vários outros grandes lutadores, como Ugo Arrigoni (RJ), Ronaldo Carlos (RJ), Ennio Vezzuli (SP), o ... lutei com todos eles. Mas o que tive mais dificuldade foi realmente o Dorival Caribé"

"Outros excelentes eram o Sohaku (RJ), com quem treinei, o William (RJ), o Djalma Caribé (BA), Carlos Rocha (SP), Ricardo D'Elia (SP), Almir Aleluia (BA)

"Hoje em dia o karate está muito fragmentado. Naquela época era um só"

"Comecei a competir um pouco mais velho. Entrei na Seleção aos 28 anos, e naquela época já era considerado veterano. Quem me chamou para a Seleção foi o Lirton Monassa. Era muito difícil, porque treinávamos quase o dia inteiro. Muita luta. Era duro..."

"Resolvi parar porque já havia muita politicagem no karate, mesmo sendo um só. E era difícil para mim participar de treinamentos da Seleção porque eu morava longe dos centros, em Natal. Os treinamentos eram sempre no Rio de Janeiro, e isso dificultou para mim..."

"Atualmente, vejo o karate da seguinte forma: hoje está bem melhor para se treinar. O reino de karate evoluiu. Creio que os treinos de kata e kumite são diferentes... a maneira de treinar kata e fundamento, é diferente de lutar. O golpe do kata é mais plantado, usando muito a compressão e a ideia de "apertar um parafuso". Mas na luta é diferente. Você deve se projetar à frente, usando o chão para se lançar. Se tentar fazer o golpe sem deslocamento, com pressão no solo, não vai funcionar bem na luta, onde você precisa de distância. Lutar é diferente de treinar kata. As pessoas têm que entender isso. Há muitas pessoas que fazem um kata lindo. Tem um karateca italiano, aluno do Shirai, que faz um kata lindo, mas não luta nada. É preciso ter discernimento e aplicar os golpes na luta"

"Sobre o karate nas Olimpíadas... é uma questão complicada. É bom por um lado, dá boa visibilidade para a arte marcial. Mas as regras não estimulam o treino correto do golpe de karate, o golpe definitivo... Mas tenho sentido, principalmente por parte dos dirigentes , uma vontade de treinar e aperfeiçoar o karate"

" O karate do Brasil tem dificuldade por causa da politicagem... a política dividiu demais o nosso karate"

"Lembro que estava convocado para o Panamericano de 1978. Mas infelizmente, uma semana antes de viajar, o sensei Inoki , que era o técnico, nos levou à Petrópolis para um treinamento. Daí o treinamento virou pancadaria, e eu acabei me machucando. Eu tinha passagem, hospedagem, tudo para viajar, mas como náo poderia lutar, decidi não ir, porque não poderia ajudar o Brasil"

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