Qual será o futuro do karate?
No princípio, o karate vitou uma febre entre os militares americanos que estavam baseados em Tóquio após o término da Segunda Guerra Mundial.
Eles trouxeram a arte marcial japonesa para os Estados Unidos, e, sem nenhum tipo de controle, começaram a dar aulas e organizar campeonatos. Começou ali a semente de uma confusão sem fim...
Mesmo sem jamais lutar contra lutadores de outros países, nomes como Chuck Norris se tornaram campeões "mundiais". Pessoas se auto-graduavam faixas pretas e criavam legiões de alunos de técnica duvidosa.
A JKA - primeira entidade de karate do mundo - ainda era exclusivamente japonesa, e isso limitava seu controle e seu poder de divulgação.
Veio então a WUKO (World Union Karate Organizations). Como o próprio nome dizia, uma entidade cujo objetivo principal era reunir todas as organizações soltas de karate e unificar a arte marcial.
Organizaram o primeiro campeonato mundial sério, com participação de atletas do mundo inteiro, em Paris , no ano de 1972.
Descontente com a arbitragem, os japoneses boicotatram a competição individual, e retiraram-se.
um dos maiores nomes do karate , sensei Nishiyama, fundou a IAKF (International Amateur Karate Federation), posteriormente mudando seu nome para ITKF (International Traditional Karate Federation), e organizou seu primeiro campeonato mundial em 1975, em Los Angeles.
De lá pra cá, as duas entidades caminharam separadamente.
Na década de setenta, havia portanto duas entidades organizando campeonatos mundiais: A WUKO e a IAKF juntamente com a JKA.
Na década de noventa, a ITKF começou a organizar seus próprios campeonatos internacionais, separando-se permanentemente da JKA.
O primeiro campeonato mundial da ITKF foi em 1990, no Peru.
Dali para frente, foi ladeira abaixo.
As siglas começaram a se multiplicar, e mais uma vez o karate se viu mergulhado em campeonatos divididos e campeões que jamais se enfrentavam. Todos queriam ser campeões, e todos queriam ser os principais mestres.
Grande parte dos mestres saiu da JKA, mas, sem querer seguir a linha sucessória natural, fundaram suas próprias entidades onde se tornaram os intrutores-chefes e presidentes.
Assim nasceram a SKIF (sensei Kanazawa), a JKS (sensei Asai), a Karatenomichi (sensei Yahara), a ISKF (sensei Okazaki)...
Infelizmente, a cada vez que saíam da JKA para fundarem suas próprias entidades, enfraqueciam mais e mais o karate. Não julgo seus motivos, até porque não os conheço, mas o fato é que o karate foi se enfraquecendo com as seguidas divisões.
Em 1996, durante o campeonato mundial de karate Tradicional reralizado na cidade de São Paulo, houve uma tentativa de unir as duas maiores organizações federativas da época: a ITKF e a WUKO (lembrando que a JKA não era uma entidade federativa, mas uma escola de karate Shotokan).
O intuito era fundar a WKF, com regras que contemplassem os atletas de ambas as federações.
Infelizmente a união não deu certo.
A WKF foi fundada, mas sem a participação de ninguém da ITKF.
A partir de sua fundação, a WKF cresceu imensamente, e filiou-se ao COI, iniciando sua participação nos eventos olímpicos nos Jogos Panamericanos de 1999. Atualmente está contemplada com a vaga nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, como esporte-demonstração.
O número de organizações segue crescendo...
Em 2013 a ITKF se dividiu, e deu origem à New ITKF.
Como atleta e praticante, me sinto deprimido ao ver constantes divisões, e ao ver tantos campeões.
Todos mundo consegue ser campeão. Se não em uma federação, em outra.
Qual o valor verdadeiro disso? Será que é a medalha que vale, e não o significado dela?
De forma alguma estou criticando alguma organização em particular. Todas são culpadas.
Critico, sim, a ganância e a falta de flexibilidade que fazem com que as divisões aconteçam.
Quem sofre são os praticantes e os atletas. Sempre.
Resta aos atletas tentarem escolher as organizações que atendem aos seus desejos e expectativas. Afinal, escolhas não faltam hoje em dia. Tipo de pontuação, nível dos atletas, regras, etc.
Aos atletas resta também compreender e engolir o fato de que seus títulos não valem tanto quanto no passado.
Antigamente, alguém era campeão brasileiro de karate. E ponto final.
Na época de Ugo Arrigoni, Ronaldo Carlos, Robson Maciel, Jacaré, Caribé... o campeão era O campeão. Reconhecido, valorizado, recompensado pela conquista.
Hoje em dia...
Hoje são tantos os campeões brasileiros, tantas as organizações e categorias, que o valor se dilui...
O mesmo se aplica em relação às graduações. Como se comparar um faixa preta de uma organização com o de outra? Como seguir a hierarquia quando um praticante é terceiro dan de uma entidade e outro, com bem menos tempo de prática, é quinto dan por outra organização?
Repito a pergunta: qual será o futuro do karate?
quinta-feira, 15 de novembro de 2018
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Boa análise e reflexão meu amigo Jayme! Infelizmente não vejo grandes perspectivas de unificação do karatê a nível internacional.
Pois é... nem eu...
Postar um comentário