Foi realizado, nos dias 06 e 07 de setembro de 2019, o XXXI Campeonato Brasileiro de Karate-dô Tradicional, na bela cidade de Cuiabá, MT.
Já são 31 edições dessa competição, que se firma como uma das mais fortes, antigas e respeitadas do Brasil.
A organização foi um espetáculo. O palco principal era um koto suspenso sobre um tablado, e sob uma bandeira gigante do Brasil. Lindo!
No feminino, as gaúchas fecharam um ano perfeito: foram campeãs brasileiras JKA, representaram a Seleção Brasileira JKA no Panamericano de Bogotá, e trouxeram o ouro, e agora sagraram-se campeãs brasileiras Tradicional.
No individual, Letícia Aragão mostrou que estava dominando totalmente os principais pilares do kata: técnica, espírito, ritmo e kime. Ficou com o título mostrando muita personalidade, sagrando-se Tricampeã brasileira. Sua conterrânea, Martinna Rey, atual campeã panamericana e mundial ITKF, ficou com a prata. Fechando o pódio, a atual campeã brasileira e panamericana JKA, Manuela Spessatto (RS). O nível do pódio de kata individual feminino já dá uma ideia do nível altíssimo dessa competição.
No fukugo, Letícia manteve as qualidades que havia demonstrado no kata individual. Avançou nas disputas alternadas de kumite e kitei kata, passando na semifinal por Martinna Rey. Na outra chave, a mato-grossense Nayara Amarante avançava com propriedade e teve que passar por Sara Ladeira (SP) para chegar à final.
Pequenina, Nayara usa muito bem suas qualidades para suprir a falta de envergadura: é rápida como um raio e se movimenta sem parar, mergulhando gyako tsuki tchudan quase indefensáveis.
E que luta! Que final! As duas mostravam que queriam demais ficar com o título. Foi uma batalha vencida na luta de desempate (keteisen) por Nayara que encaixou um guaku tsuki de deai.
Nayara ficou com o título.
No kumite por equipes, a Bahia mostrou a força de seu karate ao vencer a fortíssima equipe de São Paulo na grande final. Fecharam o pódio Paraná e Rio Grande do Sul.
Abaixo, o relato da capitã da equipe da Bahia, Martinna Rey:
"A equipe da Bahia estava diferente, apenas uma veterana e, mesmo assim, o técnico Elias Pires confiou em nos deixar escolher nossa posição de luta. Lutamos as quartas de final contra a rápida equipe do MT e nos deu motivação para enfrentar a equipe do RS, campeã de 2018, na semi final.
Internamente, eu sabia que a Manuela Spessatto iria abrir, pois contra equipe da Bahia ela sempre abre e eu assumi a responsabilidade de enfrentá-la. Fiz um jogo bem diferente, das minhas lutas rotineiras. Pressão sem ataque e quando a mesma perdeu a paciêcia os deais de guiaku zuki jodan aconteceram. A segunda luta foi entre a baiana Írvila e a Samantha. Tendo que buscar o resultado, a gaúcha pressionou e conseguiu um jogai. Posteriormente, foi punida com um chui por causa do contato de um uramawashi. A gaúcha continuou em busca do wazari até o final da luta, e ele veio. Mas ainda estávamos na frente. Por fim, a inspirada Luana encerrou sua luta contra a Cristiane por dois wazari.
A outra semi final teve o enfrentamento de São Paulo e Paraná com belas lutas e destaque para a Sara Ladeira que marcou um ipon de mawashigueri.
Na final, BA x SP. Gabriella se prontifica a lutar, mas Irvila, apesar de machucada, diz que lutaria. Foi me perguntada a ordem das lutas da equipe, eu a modifiquei e o técnico confiou. Irvila enfrentou a Sara, que ganhou a luta por dois wazaris. Eu entrei no meio contra a Paula, marquei dois wazaris e empatei o jogo. Entra Luana contra a Lorena em uma luta muito dura, a baiana buscou o ponto o tempo todo e foi anulada pela paulista. Eu já avistava a Sara se ajeitando para o desempate, enquanto eu pensava o que fazer. Luana, perseverante, marcou o esperado guiaku zuki falando apenas 2 segundos para o término da luta. E só assim quem estava de fora conseguiu respirar! Bahia campeã brasileira de kumite equipe feminino."
No kumite individual, uma final de tirar o fôlego entre duas lutadoras fantásticas: a capitã da Seleção Brasileira Tradicional, Suellen Souza (PR) e a integrante da Seleção Brasileira JKA, Sara Ladeira (SP).
E que final! A qualquer momento uma das duas poderia conquistar a vitória. Uma luta tensa, estudada e muito perigosa. No fim, a paulista conseguiu vencer a favorita Suellen, e comemorou muito a conquista desse tão importante título, sobre uma rival tão forte.
Suellen é considerada por muitos como a melhor lutadora do Brasil na atualidade. Dona de um estilo versátil, ela é uma das poucas mulheres a utilizar o ashi barai (banda). E ela ainda o faz com a perna da frente, puxando a perna da frente de suas adversárias. Todo mundo sabe que ela faz isso, mas quase ninguém consegue escapar de levar os ipon que ela faz assim. E ela tem outras armas, com um mae geri excepcional ou gyako tsuki jodan que muitas vezes levam as adversárias à lona...
Mas Sara soube controlar a luta. Usou estratégia, inteligência e muita coragem para vencer e levar o tão cobiçado título para São Paulo.
No masculino, a forte equipe do Mato Grosso, um Estado que tem imensa tradição nessa modalidade, conquistou o título. No Tradicional, além de fazer um kata nas eliminatórias, na final a equipes deve mosrar outro kata diferente, e com o bunkai (aplicação), o que torna a disputa ainda mais difícil.
No individual, um jovem mato-grossense mostrou um kata impressionante desde as primeiras rodadas eliminatórias (heyans e tekki). Na semi-final, continuou mostrando imensa qualidade e foi para a final como favorito. E confirmou seu excelente kata, ficando com o título.
No kumite por equipes, todas as disputas foram realizadas em cima do tablado. É uma sensação diferente lutar no koto elevado. O chão faz barulho, tem uma consistência diferente, e você sabe que todos os olhos estão sobre você...
A equipe da casa passou na semi-final pelos fortes paranaenses, enquanto São Paulo vencia a Bahia na outra semi. A final de 2018 se repetia em 2019. E, após três lutas tensas e acirradas - com destaque para a última luta, entre Matheus Cirillo (campeão brasileiro JKA de 2019) e Vinícius Moreno (tricampeão mundial radicional por equipes e bicampeão panamericano Tradicional individual) -, Mato Grosso ficou com o título mais uma vez, para delírio da torcida local.
No fukugo, as disputas alternadas de kata e kumite iam peneirando os atletas, sobrando apenas aqueles mais completos. O campeão brasileiro 2018, Jean Laure (PR), chegou à final com personalidade, e viu o baiano Allan Araújo (Seleção Brasileira JKA no Panamericano de Bogotá, 2019) do outro lado do koto. Na luta final, muitos ataques de ambos os lados, mas sem que nenhum dos dois conseguisse marcar um ponto. Na luta de desempate, Allan encaixou um fortíssimo gyako tsuki jodan (soco direto no rosto). Wazari e vitória para o baiano.
No kumite individual, uma história que parece de filme...
Um paulista - Seleção Brasileira JKA no Sulamericano de 2016, no Chile, e atual campeão paulista -, resolveu sair de sua casa com destino a Cuiabá, de moto!
Demorou mais de um dia para chegar, viu coisas incríveis em sua longa jornada, e chegou motivado para o campeonato brasileiro.
Voando, ele vencia suas lutas por 2 x 0. Na final da sua chave, enfrentou o veterano e xará, Jayme Sandall. Jaime Souza (SP) enfrentou o carioca, tentando encurtar a distância e bloquear os golpes longos de Sandall. Ao final da acirrada disputa, 1 x 1 em wazari, mas o carioca levou uma punição por ter pisado fora do koto (jogai). Na semi, ele venceu o atual campeão brasileiro JKA, Matheus Cirillo, por 2 wazari.
Na grane final, Jaime enfrentou uma lenda viva do karate brasileiro: Fábio Simões.
Fabinho chegava à sua segunda final em um campeonato brasileiro de karate Tradicional (a outra fora em 2015, contra seu companheiro de treinos César Cabral, onde ficou com o vice). Simões tentava conquistar o título e se juntar a um seleto grupo de lutadores que foram campeões brasileiros de kumite individual tanto na JKA quanto no Tradicional: apenas Jayme Sandall, Lyoto Machida, Chinzô Machida e Matheus Cirillo conseguiram o feito.
Mas Jaime estava no seu dia. Venceu por 2 x 0. Campeão com postura, karate forte e uma coragem imensa.
Voltou para casa de moto, deve ter visto muita coisa, e com um sorriso imenso no rosto e a medalha no peito.
RESULTADOS
Feminino
- Kata por equipes: 1) RS (Manuela Spessatto, Cristiane Babinski e Kauane Sgarbi) / 2) BA / 3) MT
- Kata individual: 1) Letícia Aragão (BA) / 2) Martinna Rey (BA) / 3) Manuela Spessatto (RS)
- Fukugo: 1) Nayara Amarante (MT) / Letícia Aragão (BA) / 3) Martinna Rey (BA) - 3) Sara Ladeira (SP)
- Kumite por equipes: 1) BA / 2) SP / 3) PR - 3) RS
- Kumite individual: 1) Sara Ladeira (SP) / 2) Suellen Souza (PR) / 3) Carolina Zampa - 3) Samantha Martello (RS)
Masculino
- Kata por equipes: 1) MT (Nalberth Amarante, Fillipe Salvaterra e Marcos Amorim) / 2) SP / 3) PR- Kata individual: 1) Nalbert (MT) / 2) Assad Haddad (SP) / 3) Andrew Marques (SP)
- Fukugo: 1) Allan Araújo (BA) / 2) Jean Laure (PR) / 3) Jayme Sandall (RJ) - 3) Caetano da Silva (PR)
- Kumite por equipes: 1) MT / 2) SP / 3) BA - 3) PR
- Kumite individual: 1) Jaime Souza (SP) / 2) Fábio Simões (SP) / 3) Frank Manera (RS) - 3) Matheus Cirillo (SP)
6 comentários:
Bom dia! Grande sensei Jayme Sandall! Oss! Apenas uma errata, a Nayara Amarante ganhou da Letícia, ficando em 1o lugar no fu-kugo feminino... Oss!
O jovem ganhador no kata individual vem fazendo uma brilhante trajetória no karatê. De família karateca, Nalberth Amarante vem há muito se destacando, inclusive com título mundial 18-21. Grande atleta. Oss!
Kata equipe do MT: Nalberth Amarante, Fillipe Salvaterra e Marcos Amorim. Unsu brilhante e um bunkai sensacional.
Excelente matéria Jayme Sensei!
Oss
Esse registro é histórico Jayme, continue sempre mostrando sua percepção, é ótima. Oss
Obrigado pelos comentários e correções!oss!
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