Andando sozinho pelos trens do interior de Tóquio
Entrando na lendária Budokan para disputar meu primeiro campeonato mundial de karate
Alimentando a alma nos templos de Asakusa
Com parte da seleção brasileira na concentração de Gotemba. Ao fundo, o monte Fuji
Desde que entrei no karate, ouvia as histórias daqueles
que tinham ido ao Japão para treinar, e meus olhos brilhavam! Eu
imaginava aqueles filmes antigos de artes marciais que eu era viciado
quando criança. Sonhava em um dia ter a coragem e a oportunidade de
viver uma experiência dessa. Mas era só um sonho distante...
Meu
coração bateu acelerado quando recebi a convocação para integrar a
seleção brasileira que disputaria o campeonato mundial de karate JKA, no
Japão. Junto com o orgulho de representar meu país em um mundial, veio
aquela vontade antiga, aquele sonho distante: ficar treinando no Japão.
Sem
dinheiro, corri atrás de patrocínios, peguei dinheiro com meu avô, tive
ajuda de muita gente, e consegui o valor para a tão sonhada viagem.
Liguei
para a agência de turismo responsável pela seleção e pedi que minha
passagem da volta fosse colocada 15 dias após o retorno da delegação.
Onde eu ficaria e com quem treinaria, eu ainda não sabia. Afinal,
chegando lá tudo daria certo. Será?
Faltando
3 dias para o início do campeonato, depois de uma estadia de cinco dias
concentrados em Gotemba, um local isolado aos pés do Monte Fuji,
finalmente reuni coragem para ir falar com sensei Machida sobre o meu
plano de ficar no Japão.
- Sensei, eu gostaria de ficar no Japão treinando depois do mundial - disparei assim que ficamos sozinhos.
- Ah, muito bom. Onde você vai ficar?
Sem graça, respondi:
- Pois é sensei, na verdade ainda não tenho onde ficar e nem com quem treinar. Você pode me ajudar?
Ele me olhou surpreso.
- Você é maruco! - Disse, e saiu andando.
" Me ferrei", pensei
Mas sensei Machida tem um coração gigantesco e uma generosidade imensa.
No mesmo dia, o meu amigo e filho do sensei, Take, veio falar comigo.
-
Jayme, por quevocê quer ficar aqui no Japão? - Me perguntou com sua voz
tranquila. - Você que fazer turismo, conhecer outros lugares aqui?
- Quero treinar karate - respondi sem nem piscar.
-
Olha, se você quiser mesmo treinar, vai ter que aguentar. Se apanhar,
ficar cansado, quebrar o braço, não vai poder desistir. É isso que você
quer?
- Sim - respondi de novo sem piscar.
- Então vou falar para o meu pai.
No
dia seguinte, enquanto estávamos no histórico ginásio da Budokan
acompanhando as competições infanto-juvenis, sensei Machida me pegou
pela mão e disse: "vem comigo!"
Me arrastou até
dentro da área restrita aos mestres e parou diante da menda viva, sensei
Masahiko Tanaka. Fiquei imóvel enquanto eles conversavam em japonês.
Sensei Tanaka olhou para mim e estendeu a mão, que apertei nervoso. Ele
se virou e foi embora.
- Depois do mundial você vai ficar treinando com ele - disse sensei Machida.
Três
dias depois do mundial, e no dia seguinte ao torneio amistoso Seleção
Brasileira vs seleção Kokushikan , sensei Tanaka me pegava de carro e me
levava para sua casa no interior de Tóquio, em um distrito chamado
Higashi-Koganei.
Lá, houve um jantar onde estávamos
eu, sensei Tanaka, o capitão da equipe de karate da Universidade de
Tóquio (onde sensei dava aula), mais três alunos e uma mulher - a única
que falava inglês e que traduziaa conversa.
Na hora de ir embora, sensei me entregou a chave da casa e me disse: " don't loose". Não perca.
Fui dormir muito ansioso. O que o amanhã reservava para mim?
2 comentários:
Que experiência!
Treinar karate no Japão é um sonho! Parabéns pela iniciativa que teve!
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