Essa é uma discussão comum entre praticantes de karate Shotokan. Afinal, qual das duas formas de luta é a mais real, a mais importante?
Desde a faixa branca, faço jyu kumite (luta livre). Tive muita sorte de ter sido "adotado" desde as faixas iniciais, pelo casca grossa Ricardo Arrigoni (Rico), que lutava comigo e com seu sobrinho, Christiano Arrigoni, dando várias escovadas na gente. Era coisa de sair com olho roxo, boca sangrando, dor nas costelas, canelas, pés... e por aí vai. Hoje em dia não seria considerado lá muito didático, mas que moldou nosso espírito de luta isso moldou. Foi a melhor coisa que poderia ter acontecido comigo, como lutador.
Nos anos que se seguiram, fiz inúmeras lutas dentro de diferentes academias, umas mais tranquilas, outras bem pesadas.
No jyu kumite não há regras. A luta não tem tempo pré-definido, pode durar menos de um minuto, ou muito, muito mais (eu e Vinicio Antony já fizemos uma luta que durou 45 minutos). Pode começar em pé e terminar no chão; pode ser leve, pesada, leal ou nem tanto. É, como o nome diz, livre.
O Shiai é bem diferente. É uma luta de competição, e como tal tem suas regras. Há tempo, árbitros, vencedor e perdedor (bem, pode dar empate também, em lutas por equipe). Muitas coisas são proibidas, visando preservar a integridade física dos atletas e a qualidade técnica dos golpes.
No Shiai, diferentemente da luta de academia, que pratica é atleta. Em geral, são pessoas com excelente condicionamento físico, que treinam horas por dia visando as competição. São karatecas selecionados, que treinam muito acima da média, e portanto conseguem ficvar mais rápidos, mais fortes. Geralmente, quem compete representando sua academia são os melhores dessa academia; as seleções estaduais são formadas pelos melhores de seus Estados, e as internacionais pelos melhores de seus países. É uma peneira, e quando se chega a uma competição mundial, o nível dos adversários será altíssimo.
Na competição ambos os lutadores desferem os golpes com toda força, e ai de quem não defender direito: pode ir à nocaute. Dá um nervoso imenso, um frio na barriga que às vezes quase foge ao controle antes de se pisar num kotô. Principalmente nas primeiras competições da carreira.
Na academia, por outro lado, apesar de muitas vezes se lutar com total controle, quando o bicho pega, pega mais do que na competição, porque não há tempo, juiz, regras. Muito lutador que não compete já travou batalhas dentro de um dojô.
Resumindo: na minha visão de lutador de academia e de atleta de competição, ambas são importantes, e o atleta jamais pode abrir mão do jyu kumite se quer ser um lutador. Lutador, e não apenas praticante ou esportista. Até porque, para mim, quem compete em karate Shotokan não é esportista, é lutador. É alguém que não admite vencer por desclassificação do oponente, vencer apanhando; é alguém que toma uma bomba na cara e nem coloca a mão; é alguém que coloca a honra na frente dos títulos.
OSS.
2 comentários:
O Jyu Kumitê, para mim, é a parte do karate mais tradicional, é aquele que se treinava nos antigos dojos do Japão. Sou a favor do treinamento mais intensivo para esse lado do karate, e alem disso, tambem sou a favor que as suas técnicas fiquem apenas com quem treinou, sem sair por ai falando que treina Jyu Kumite, que é fodão, porque assim a tradição se acaba. Aquele que sabe é aquele que se cala e "Hitotsu-Reigi o omonzuru koto" (Sempre- respeito acima de tudo)
Oss
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