Eu e sensei Imura. Por incrível que pareça não tenho fotos com sensei Masahiko Tanaka. Eu ficava sem graça de pedir para tirar foto com ele...
Treino na Shokukan
Desafio Seleção Brasileira vs seleção Kokushikan
Brasil vs Dinamarca. Minha primeira luta em um campeonato mundial.
Entrada da Nikon Karate Kyokai
Troféus do sensei Tanaka na casa onde fiquei.
PARTE 2
Meu
primeiro treino foi na Universidade de Tóquio, no bairro de Kokubunji.
Lá, cerca de 20 japoneses, todos faixas pretas. O treino foi puxado pelo
capitão da equipe.
Até hoje acho que o objetivo
desse treino era me fazer desistir. Foi muito, muito puxado. Mas eu via
que eles também estavam mortos, e isso me dava energia para seguir
treinando, apesar de achar que ia vomitar de tão cansado!
No
frente a frente, treino de fila. Quando foi a minha vez de defender e
contra-atacar, um dos japoneses me deu um soco forte na cara. Nem me
abalei. Por fora, porque por dentro eu fervia de raiva. Me lembrei de
sensei Machida me falando depois de me apresentar para sensei Tanaka: "Jayme, japonês é assim: se você se abaixar, ele monta nas suas costas
como se você fosse cavalo. Então se te baterem, bate de volta mais
forte!"
E eu bati.
Esperei
o mesmo japonês rodar na fila. Quando ele chegou na minha frente de
novo, me preparei. Ele atacou, eu defendi e dei um soco que pegou ma
garganta dele. Ele saiu tossindo e eu permaneci inabalado. Por fora,
porque por dentro estava gritando!
Depois disso não
tive mais incidentes e fui muito bem tratado pela equipe da
Universidade. O único problema era a barreira da língua, porque o único
que falava inglês, falava muito mal...
À
noite, treino na Shokukan, academia do sensei Tanaka. Ele estava
viajando para dar um curso, e quem puxou o treino foi sensei Imura.
Depois
do treino me levaram para jantar. Na volta, Elia (a que falava inglês),
me levava para casa. Estávamos sozinhos no carro. Ela entrou em uma das
ruazinhas estreitas que caracterizam essa região mais afastada do
centro de Tóquio, quando os faróis iluminaram um homem de terno, parado
de costas no meio da rua. Ele falava ao celular, e não se abalou ao
perceber os faróis o iluminando. E não saiu do meio da rua. Estranhei, e
quando fui perguntar a Elia, reparei na cara de medo dela. Ela abaixou
os faróis e esperou. Fiquei em silêncio e com medo.
Finalmente o homem olhou de relance para o carro, e, sem a menor pressa, saiu da frente.
Elia acelerou bem devagar, e só acendeu os faróis depois que passamos por ele.
- Yakuza - disse ela me olhando com os olhos arregalados.
Fiquei mudo. Me senti em um filme.
O primeiro treino na Shokukan que sensei Tanaka puxou foi, sem dúvida nenhuma, para me testar ou me fazer desistir.
" Só paro de treinar se desmaiar ou morrer", pensei.
Socos e chutes em um kihon sem fim.
Mas
eu aguentei. As solas dos pés sangrando, as pernas duras e na hora de
dormir um bendito banho no minúsculo ofurô da casa (eu só cabia todo
encolhido).
Na minha rotina de treinos, além da
Universidade de Tóquio e da Shokukan, eu fui algumas vezes no Honbu
Dojo, sede da Nikon Karate Kyokai - JKA
No
jantar que deram para se despedir de mim, no final dos 15 dias de
treinos extenuantes, todos bebemos e ficamos "altos". Na hora da foto eu
estava rindo, feliz. O comprido banco de madeira onde estávamos
sentados para a foto começou a balançar de um lado para o outro e eu
balançava rindo. Achei que era uma brincadeira do pessoal. Quando vi as
expressões assustadas, mesmo tendo bebido meia dúzia de cervejas,
percebi que algo estava errado.
- Earthquake - disse Elia para mim.
Terremoto.
Por sorte o prédio inteiro "só " balançou. Mas não tremeu como vemos nos filmes. Ele balançou.
No
final da viagem, um orgulho infinito de ter suportado tudo, e de ter
honrado sensei Machida, meu sensei Ugo Arrigoni, e o Brasil. Pode
parecer bobo, mas eu sentia que estava representando a seleção
brasileira, e que deixei uma boa impressão. Gosto de imaginar que eles
tenham dito: "brasileiro não desiste!". Mesmo que não tenham dito. Gosto
de imaginar que foi essa a impressão que deixei.
No
final, foi uma experiência que mudou completamente a minha vida. Tenho
imenso orgulho e satisfação de ter perseguido esse sonho e realizado
aquilo que sempre quis.
Oss!
Um comentário:
Excepcional Jayme! Muito bom. Osu!
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