quinta-feira, 22 de abril de 2010

POR QUE O KARATE PERDEU ESPAÇO NA MÍDIA?

Nas décadas de sessenta, setenta e princípio de oitenta, o karate Shotokan gozava de um bom espaço junto à mídia esportiva. Não era raro matérias em jornais, TV ou revistas sobre os principais lutadores brasileiros, que alcançaram fama nacional. O karate Shotokan era então uma luta respeitada, e dizer que era faixa-preta dessa arte marcial inspirava respeito imediato.
Desde a segunda metade da década de oitenta em diante, entretanto, esse quadro começou a mudar para pior. O Shotokan foi perdendo espaço para outras lutas, como o judô, o jiu-jitsu, e principalmente o MMA. Hoje em dia, é raro vermos algum evento de Shotokan ser televisionado para todo o Brasil, ou sair algo em jornais ou revistas de âmbito nacional. Pior: hoje, dizer que é faixa-preta de karate já não causa a mesma boa impressão que causava no passado, e nem de longe inspira o mesmo respeito.
O que aconteceu?
Na minha opinião não foi apenas um fator isolado, mas uma junção de coisas que prejudicaram nossa arte marcial. Destaco dois tópicos como, em minha opinião, os mais importantes.
Em primeiro lugar, a divisão sem fim do nosso karate. Não sei se as pessoas que promoveram todas essas divisões têm consciência disso, mas essa atitude enfraqueceu demais o Shotokan. Como conquistar espaço na mídia dizendo ter sido campeão brasileiro, se há vários outros lutadores que dizem a mesma coisa, por serem campeões em suas federações? Nenhum repórter vai entender o que está acontecendo, e até que você explique que foi campeão de karate Shotokan de tal divisão, ele já foi embora, publicar algo sobre o campeão brasileiro de judô ou jiu jitsu.
Se alguém quer lutar pulando, se movimentando mais, outro que ficar mais duro, outro prefere bater para arriar o oponente, por que não podiam continuar lutando uns contra os outros? E que aquele que conseguisse encaixar melhor o seu jogo fosse campeão. Para que dividir tanto?
Mas há outra coisa que enfraqueceu nosso Shotokan: a facilidade em se conquistar faixas.
Nós sabemos que um aluno pode passar com extrema rapidez da faixa branca para a roxa ou marrom, e muitas vezes chega lá sem saber lutar direito, apenas por ter um bom kata, ou uma forma bonita fazendo kihon. É lógico que existem muitos professores que são exceções, que são muito duros em sua avaliação, e cujos alunos são casca-grossa. Mas infelizmente são exceções à regra. No geral, o que acontece é o que escrevi acima.
E quantos alunos são agraciados com a faixa-preta, e são lutadores fracos?
A verdade é que o Shotokan facilitou muito a graduação, formou faixas-pretas demais, e com isso balançou a credibilidade da luta. Antigamente, enfrentar um faixa-preta de Shotokan era uma tarefa das mais complicadas. Hoje em dia...
Felizmente a balança virou a nosso favor novamente, e por ironia através de uma modalidade que é combatida por muitos professores: o MMA.
Com o sucesso de Lyoto Machida, os olhos do mundo voltaram-se novamente para o Shotokan, e todos estão reconhecendo a qualidade da luta. Apesar de muita gente ruim, dá para separar o joio do trigo, e ver que há lutadores excepcionais dessa arte marcial mais do que eficiente. E em todas as federações dá para separar lutadores de qualidade, sem exceção. Só é preciso separar o joio do trigo, os que lutam mesmo dos que dizem que lutam.
OSS!

Um comentário:

Luís Eduardo disse...

É verdade Sensei Jayme, concordo com tudo que vc disse, e ainda acrescento mais uma coisa, o excesso de treinos para competição, esquecendo o lado marcial do karate, visando apenas pontos, esquecendo o kime. Hoje vemos grandes campeões que não têm pancada e nem sabem o que é kime. Espero que como vc disse essa situação esteja mudando pra melhor. Oss!!