quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A luvona e o karate Shotokan

Cézar Mutante e eu logo após o treino



Na última semana em Vegas, na quinta-feira de manhã, Vitor fez seu último treino antes da luta contra Anderson.
Com isso, fiquei livre, já que ele não mais precisaria de mim para treinar.
Peguei minhas coisas e fui para a Xtreme Couture, para o treino da tarde. Treino de sparring com os profissionais.
Primeiro, fizemos um round de corrida, para aquecer. Depois, dois rounds de sombra, sem luvas, bem leve. Ali, sentia minha movimentação muito boa, e a noção de tempo e distância do Shotokan funcionando perfeitamente. Mas depois...
Era hora de colocar as luvas e os capacetes para o treino forte. Luvas de boxe. Foi a primeira vez em minha vida que lutei com as luvonas, e assim que as calcei, senti dificuldade de fechar as mãos. Capacete eu preferi não usar, porque eu já tinha experimentado uma vez, e senti que prejudicou minha visão. Se viesse soco na cara, eu ia ter que agüentar.
Havia entre os lutadores de MMA três profissionais de boxe, que faziam o treino de sparring junto. Quem fizesse com eles não poderia chutar, seria apenas boxe mesmo, e por isso o pessoal evitava. Principalmente um cara alto, forte, que ninguém queria fazer. De cara, adivinhem com quem eu quis lutar?
Quem tá na chuva é pra se molhar...
Baixei minha guarda e meti uma postura de karate, pois meu objetivo principal era me testar. Por isso não fiquei com as luvas na frente do rosto, todo fechado.
Ele pareceu meio cismado, acho que nunca tinha visto uma postura como a minha. Ficamos mais ou menos um minuto nos estudando, sem muitos golpes além de um ou dois jabs dele que eu sai e morreram no vazio. Balancei um pouco e soltei meu bom e velho kyzami, que pegou em cheio no rosto dele, com força. Ele nem se mexeu.
Depois disso...
Foi um massacre. O boxeador veio para cima, com a cabeça bem baixa, quase na altura dos meus joelhos. Eu não podia chutar, então ficou muito difícil de acertá-lo. Tentei deai umas duas vezes, mas a cabeça dele estava baixa demais, e eu tomava o swing. Levei vários socos na cara, e comecei a clinchar. Ainda acertei um bom kyzami, mas foi só. Apanhei bastante.
Depois, seguindo minha lógica de quanto pior melhor, lutei com os dois outros boxeadores, ainda sem poder chutar, e me saí bem melhor, apesar da imensa dificuldade com as luvonas. Elas mudam inteiramente a distância, e atrapalharam bastante meu jogo de karate.
Mesmo assim tomei poucos golpes no rosto e consegui encaixar bons kyzami, um deai bem forte e um mawashi zuki recuando que quase fez um knockdown. Aliás usei muito os socos recuando, que funcionam que é uma beleza.
Nos dois últimos rounds, lutei com um gigante de mais de 1,90 e uns cento e dez quilos, especialista em muay thay. Ele lutava com as luvas na frente do rosto, e isso matou meu deai, que não conseguia furar a guarda. Nós lutamos com bem menos força do que fiz com os boxeadores – que querem mesmo é trocar porrada. Consegui encaixar alguns bons chutes, e alguns socos, principalmente tchudan, mas ele me acertou muitos socos no rosto e várias caneladas que se fossem à vera teriam me deixado sem andar.
Conclusão: a luva de boxe atrapalhou muito o meu jogo.
Mais tarde, nessa mesma noite, lutei com um rapaz que é tetra-campeão mundial de taekwondo tradicional (não olímpico). Eu tinha visto ele competindo alguns dias antes, atropelando os adversários para ser campeão de um torneio de Las Vegas. Muito rápido e com chutes fortíssimos.
Fomos lutar no octagon, e de cara falei: small gloves (luvas pequenas).
Aí foi bem diferente, e me dei muito melhor. Consegui enxergar todos os golpes dele, e apesar da velocidade superior, ele não conseguia me pegar. Eu encaixei bons chutes, e dois deai (um de kyzami um de gyako) que poderiam terminar qualquer luta.
Foi um dia de grandes experiências para mim, um dia de colocar à prova meu karate.
No final do treino deu até dor de cabeça, haha.
OSS.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Aula com sensei Tanaka



Sábado passado fui a uma aula com sensei Yasutaka Tanaka, na lendária academia Kobukan.
Além do sensei Tanaka, estavam presentes os professores Ugo Arrigoni, Flávio Costa e Eduardo Santos.
O que o sensei Tanaka ensina em uma simples aula de uma hora é algo inimaginável. É realmente incrível ver o tamanho do conhecimento dessa pessoa que vivenciou o karate toda a sua vida. É um exemplo a ser seguido, por sua busca infinita pelo aprimoramento, e por sua humildade (até hoje ele diz otaga-ni na hora do cumprimento, e não sensei-ni, e não fala o dojo-kun porque, segundo ele, já ele não é capaz de viver exatamente da forma como o dojo-kun prega, então prefere não falar. Coisas de um samurai).
A aula – gratuita para os federados na FERJKT – foi sobre distância. Sensei explicou sobre a distância crítica, onde você jamais pode ficar sem atacar. Se entrar nessa distância, ataque.
Essa simples frase engloba todas as situações de confronto em uma luta. Desde uma competição de karate, passando pela luta de academia, combates na rua, e até mesmo o MMA.
Para quem tiver a chance de aproveitar enquanto essa lenda do karate ainda está entre nós, vale a pena. Demais. Muito mais do que se pensa.
Sensei Tanaka não é um dinossauro que vive do nome. É um poço de conhecimento, um homem que evolui a cada dia, e que por mais que eu treine com ele, sempre aprendo coisas novas.
OSS!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Fotos UFC 126

Seguem abaixo algumas fotos que tirei no UFC 126.

Vitor logo após sua entrada
Anderson e Vitor antes do início da luta


O octógono

Dana White e Joe Rogan



Joana Prado, Cézar Mutante e eu, na cara do octagon.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Traição e códigos de honra

Anderson e Vitor lutaram. Disso todo mundo sabe, todo mundo viu, e deu no que deu, com o campeão mantendo seu cinturão de forma incontestável, provando seu talento imenso e sua habilidade quase inigualável.
Agora, um assunto que continua gerando muita polêmica, dividindo opiniões é sobre se eles deveriam ou não ter lutado. Anderson diz que não, Vitor diz que sim.
Não vou tentar ser juiz de nada, até porque sou parcial nessa história. Mas vou dar minha opinião, e contar um fato que presenciei, vi com meus olhos.

Lutadores são pessoas que vivem em função do esporte que escolheram. Sejam profissionais, como os lutadores de MMA, ou amadores, como os atletas do Shotokan Tradicional / JKA. Em ambos os casos, são pessoas que dedicam a vida às competições. Ou seja, treinam diariamente com o objetivo de serem campeões, vencerem torneios, ganharem de todos os adversários. Acho que não existe ninguém que treine para perder. Quem não gosta de ganhar, ou não liga para isso, não será atleta.
Tenho grandes amigos dentro do karate, espalhados por várias partes do Brasil. Pessoas com quem eu me identifico, que passaram por muita coisa comigo, gente que eu respeito e confio. Mas quando a gente se enfrenta nas competições Brasil afora, é um “pega pra capar”. E que vença o melhor. Derrotado e vencedor continuam sendo amigos, saindo juntos, rindo juntos, comentando sobre as lutas. Afinal, como escrevi acima, todo mundo está ali querendo a mesma coisa: vencer, ser campeão. E o alto do pódio é um lugar solitário...
Nunca conheci ninguém no karate que ficasse chateado porque um amigo quis lutar e vencer uma competição. Inclusive parceiros de academia, alunos de mesmos professores ou até irmãos (Lyoto e Chinzô se enfrentaram nas finais dos campeonatos brasileiros Tradicional em 1999 e JKA em 2001)


O UFC é o evento de MMA mais importante do mundo atualmente; é o que paga as melhores bolsas, que traz mais notoriedade, dinheiro (tanto das bolsas quanto dos patrocínios), é onde estão os melhores lutadores do mundo. Ou seja, é o sonho de consumo de dez entre dez lutadores profissionais de MMA. E só há um campeão por categoria de peso.



Segundo a teoria de que companheiros de treino e amigos não podem lutar, se o campeão for um dos dois, e lutar na mesma categoria de peso que você, restará para você a opção de se aposentar, ou ir para outro evento com menos visibilidade e bolsas menores, ou lutar sem jamais disputar o cinturão, perdendo a chance de ser campeão. Será que é certo?



E para terminar conto o que vi:

Dizem que o Vitor desafiou o Anderson, quis lutar com ele. Isso jamais aconteceu. Eu estava no vestiário após a luta do Belfort com o Rich Franklin quando Dana White entrou na sala e pediu para os jornalistas presentes saírem dali. Então, do nada, ele olhou para o Vitor e disparou: "você quer lutar com o Anderson pelo cinturão?"

Vitor ficou meio atordoado, e disse: "você é o patrão. Se quiser que eu lute, eu luto".

Depois disso, Vitor disse que não queria lutar com o Anderson, que preferia disputar o cinturão com outra pessoa, se pudesse escolher. Mas que escolha ele teria? Era lutar, ou jamais tentar ser campeão.

Fica no ar a questão do certo ou errado. Cada um tem direito a ter a opinião que quiser, mas todos devem saber de fato o que aconteceu.



OSS.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Vitor Belfort é nocauteado



E agora?
Essa é a pergunta que fica depois dessa derrota.
E quando um golpe solitário põe fim a meses de treino?
Vitor estava bem antes da luta. Focado, ansioso para lutar, físico e mente no auge. E ele começou melhor, movimentando-se bem no octagon. Os dois se estudaram bastante antes dos primeiros movimentos. Belfort atacou, conseguindon atingir um soco em Anderson, que sorriu em resposta. Logo depois, os dois se embolaram e foram para o chão, com Vitor por cima. Mas Anderson levantou segundos depois.
E aí, Silva soltou um golpe inesperado...
Com um chute frontal de perna esquerda que pegou em cheio no rosto de Belfort, Anderson Silva pôs fim à tão aguardada luta do século. Vitor já caiu nocauteado.
Na platéia, dividida como numa partida de futebol, delírio de parte da torcida, e incredulidade por parte do restante.
Mas será que esse chute apagou todo o esforço que Belfort fez nesses meses?
Vitor foi com tudo para a luta, os treinos foram bem feitos, todos os treinadores trabalharam duro diariamente, e ele jamais esmoreceu ou treinou com menos disposição.
Foi culpa de quem, então, esse nocaute?
De ninguém. É simples assim. Foi mérito do Anderson, que não é campeão e está invicto a tanto tempo à toa.
Todos do time de Belfort estão tristes, é claro, mas ao mesmo tempo orgulhosos do Vitor, que se mostrou guerreiro, e treinou acreditando até o fim que venceria. Perdeu, mas acontece. Nesse esporte, apenas um sai com a vitória. Hoje, foi o Anderson Silva.
Ao sair, Vitor foi aplaudido e recebeu muito apoio e carinho dos fãs.
Agora, é engolir essa derrota amarga, levantar a cabeça e partir para a próxima. Pensar no futuro, sem esquecer o passado.
Da minha parte tenho muito orgulho de ter feito parte do treinamento do Vitor, mais uma vez, e de ter tido a chance de trabalhar com nomes como Cézar Mutante, Rodrigo Artilheiro, Randy Couture, Ray Sefo, Jake Bonacci, Neil Melanson, Mike, Pedro, Gutemberg, e tantos outros que compuseram o time Belfort.
Até a próxima luta...
OSS

Rivalidade total


"Ou eu vou ser nocauteado, ou eu vou nocautear"

Essas foram as palavras de Vitor Belfort para mim na sexta-feira à noite, um dia antes da pesagem que se realizou hoje no hotel Mandalay Bay. Vitor está mordendo o protetor, disposto a partir para a trocação franca com Anderson.
Na pesagem, ambos os lutadores bateram o peso (185 libras) sem problemas. Mas na hora da foto...
Anderson colocou uma máscara branca, e os dois ficaram com os rostos colados, nariz com nariz. Nenhum dos dois cedia um milímetro sequer.
Anderson fez isso em resposta a um comentário de Vitor, que disse que o adversário era uma boa pessoa, mas quando entrava no octagon colocava uma máscara, e se transformava.
Ao tirar a máscara branca, Anderson provocou Vitor, que respondeu que estava ali, não iria a lugar algum, e estava pronto para a luta.
O clima ferveu no Mandalay bay.
Os dois tiveram que ser contidos e separados. No fim, Vitor foi aplaudido pelo público que lotou as arquibancadas, enquanto o campeão recebeu muitas vaias.
Antes de entrarem no palco para a pesagem, nos bastidores, eles nem sequer trocaram um olhar.
A luta vai ser uma batalha épica. Os dois querem a vitória mais do que tudo.
Na equipe Belfort, está todo mundo ansioso para que soe o gongo e comece finalmente a luta de MMA mais aguardada de todos os tempos.
OSS.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Entrevista na VEJA e o frio de Vegas




Saiu essa semana uma entrevista com Vitor Belfort na revista VEJA - que considera o confronto entre os dois brasileiros como a luta do século - onde ele fala, entre outras coisas, dos dois treinadores de caratê que o estão acompanhando.

"Como está o treinamento? A preparação está excelente, treino duro há algum tempo com Randy Couture. Estou pronto, na ponta dos cascos. Treino diariamente, em tempo integral, dois períodos por dia. Tenho um treinador só para golpes, outro para traçar estratégias, outro somente de jiu-jitsu, e dois de caratê. É um trabalho que tem de estar sempre focado."

Belfort está se referindo a mim, que estou aqui, e ao mestre Vinicio Antony, que não pôde se ausentar do Brasil para essa luta mas que nem por isso deixa de estar presente por aqui.
Nessa semana o frio resolveu chegar com força total aqui em Vegas, e à noite está fazendo 0 graus. Um frio de rachar! Ainda bem que a Xtreme Couture é climatizada e o frio fica só do lado de fora.

Essa luta me lembra o confronto histórico entre Joe Frazier e Muhammad Ali, realizado em Manila, Filipinas, em 1 de outubro de 1975. Lá também, como acontece por aqui, dois gênios da luta se enfrentavam em meio a muita troca de declarações na imprensa e uma tensão imensa no ar. Lá, como aqui, os dois não se davam bem. E ambos estavam dispostos a dar o sangue pela vitória. Não por um simples cinturão ou prêmio em dinheiro, mas principalmente pela honra.
Aquela luta - Trilla in Manila - terminou com uma vitória apertadíssima de Ali quando, antes do último round, o córner de Frazier jogou a toalha - fato que jamais foi perdoado por ele. Muhammad estava prestes a entregar os pontos quando a toalha caiu no meio do ringue.
O que vai acontecer sábado, ninguém pode prever, mas que será um duelo de titãs, uma luta para ser lembrada para sempre, isso é fato.

Faltam apenas dois dias para a luta...
abaixo, o link com a entrevista completa:
http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/vitor-belfort-%E2%80%9Cestou-pronto%E2%80%9D

OSS!