quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mundial JKA 1977

Quase todo mundo soube do feito do Brasil no último Mundial da JKA, realizado em Pattaya, Tailândia, quando a equipe chegou à final contra o Japão, perdendo por 3x1.
O que muito pouca gente sabe, entretanto, é que no Mundial da JKA de 1977, realizado na Budokan em Tóquio, Japão, a equipe de kumite do Brasil fez uma “final antecipada” com a equipe japonesa. Escrevo “final” porque foi a luta mais difícil para o Japão, dentro de casa, com uma seleção dos sonhos.
Na época, o Brasil tinha um campeão mundial de kumite individual (Luiz Tasuke Watanabe, Paris 1972), e um vice de kata e kumite individual (Ugo Arrigoni, Cairo, 1976), além de outros grandes nomes, campeões panamericanos.
Infelizmente, por uma falta de sorte, o Brasil pegou logo de cara a equipe favoritíssima ao título: o Japão. Tenho certeza de que se estivessem em chaves separadas, só se enfrentariam na grande final, porque para vencer essa equipe do Brasil, naquele ano, só mesmo o Japão.
Talvez haja imagens desse encontro fantástico, mas não conheço ninguém que as tenha. Mesmo assim, há que se documentar a participação histórica dos nossos lutadores na época de ouro do karate, quando todos competiam juntos, sob a bandeira da JKA.
Os fatos aqui descritos me foram narrados pelo sensei Ugo Arrigoni, que fazia parte da equipe titular, e Ricardo Arrigoni, seu irmão, que estava presente junto com a delegação brasileira.
Os Brasil vinha com o que tinha de melhor: Ronaldo Carlos (RJ), Antônio Fernando Pinto (MG), Ugo Arrigoni (RJ), Dorival Caribé (BA) e Luís Tasuke Watanabe (RS). Victor Hugo Bittencourt era o preparador físico, e ninguém menos do que Tadashi Takeuchi era o técnico.
Pelo Japão, Tabata, Mori, Masahiko Tanaka, Yahara e mais um que eles não se lembravam o nome.
Antes do confronto, sensei Takeuchi chamou Tabata, que passava perto. Este mostrou imenso respeito pelo técnico do Brasil, e eles ficaram conversando por alguns minutos, sob o olhar de Ricardo Arrigoni. No final, os dois começaram a rir, e se despediram.
- O que foi que o Sr. conversou com ele, sensei?
Ainda rindo, Takeuchi disse:
- Perguntei de o mae geri dele ainda era ruim. Ah, e peguei a ordem dos lutadores japoneses, para que a gente possa armar nossa equipe, né?
Para constar, Tabata era conhecido como o melhor mae geri do planeta.
Sensei Takeuchi armou a equipe, que surpreendeu os japoneses, que venceram por apenas 2x1.
Ronaldo Carlos e Watanabe empataram, Antônio e Dorival perderam, e Ugo venceu Yahara, assombrando o mundo, que até então considerava os japoneses como praticamente invencíveis.
No duelo dos campeões mundiais, Watanabe empatou com Masahiko Tanaka.
No individual, Ugo Arrigoni ficou entre os oito melhores do mundo. Tanaka sagrou-se campeão.
Esse capítulo da História do karate brasileiro e mundial jamais deve ser esquecido, e os heróis que defenderam a nossa bandeira, e conquistaram o respeito mundial para o nosso karate devem ser sempre reverenciados.
OSS!
* no link abaixo, a final desse mundial, entre Japão e Alemanha Ocidental:
http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=2ASoPf6cAjk

6 comentários:

Dana Black disse...

Vc acha que o karate brasileiro pode ser conssiderado o segundo melhor do mundo ?

Jayme Sandall disse...

Difícil dizer se é o segundo, mas com certeza está entre os cinco melhores países do mundo. Na JKA, eu diria que os 5 melhores são Brasil, Japão, Argentina, Bélgica e África do Sul.

Katsumoto's Karate do disse...

Bom, Jaime, ja que vc me pediu opinião sobre o MUndial de 77 aqui vai. Sim, o Brasil naquela epoca tinha uma das melhores equipes do mundo mesmo. Nakayama Sensei ja havia dito isso dentro do Dojo de Okuda Sensei, quando esteve aqui em 75. Tabata Sensei foi um dos melhores amigos do Sensei Stan Schmidt(meu atual Mestre) e ele me disse que Tabata era o mais forte karateca de Jyu-Kumite da JKA naquela epoca, enquanto no Shiai, Oishi era o melhor. Ugo Arrigone foi o atleta do Brasil que mais deu trabalho aos Japas, mas o Ronaldo e todos os outros também preocupavam as melhores equipes.
Sensei Frank Brennan me disse pessoalmente no Japão em 96, que o Brasil estava entalado na garganta dele desde o Mundial do Egito em 83, quando eles perderam para a Equipe Brazuca.
O MUndial de 77 NUNCA foi esquecido por nós, que sempre fomos da JKA, desde o inicio. Foi uma das melhores atuações de uma Equipe estrangeira na História da JKA. Equipe Fantastica.Na minha modesta opinião o Karate de hoje, tecjnicamente é melhor do que o do passado, porém na parte Espiritual, fica bem longe daquele tempo, onde não havia proteçoes, luvas e tudo o mais..o cara botava na Reta mesmo!!!

Jayme Sandall disse...

Sensei Roberto,concordo plenamente, o espírito de luta daqueles lutadores era inigualável. Só fico triste de não termos fotos e imagens desse episódio. Quanto ao Tabata, o Ricardo e o Ugo Arrigone me disseram que era um dos melhores atletas que existia. Tinha um mae geri indefensável.
E para o Frank Brennan, que é um dos maiores de todos os tempos, falar isso, é porque a equipe do Brasil era boa demais...
OSS!

Ronald disse...

Tive o privilégio de ser aluno de três integrantes dessa equipe, os mestres Takeuchi, Ugo Arrigoni e Ronaldo Carlos, além do Fernando Athayde que, apesar de não ter participado dessa equipe, foi um atleta excepcional (infelizmente esquecido).

Hoje, apesar da idade, continuo praticando aqui nos EUA o que aprendi não só com eles, mas também com a geração mais jovem (Vinícius, Jayme e outros talentos). Nessas minhas andanças , fica clara a qualidade técnica do nosso karate que, merecidamente volta a se destacar no mundo. Tava mais que na hora.

Jayme Sandall disse...

Grande Roni, na verdade Fernando Athayde não foi nem será esquecido, pelo grande lutador que foi e ainda é. Tenho tentado, dentro das minhas possibilidades, resgatar todas essas feras. No site www.ferjkt.com.br há algumas fotos dele, mas confesso que o material é muito pouco. Aproveito para pedir, caso tenha, fotos dele para que eu coloque no blog e no site. Grande abraço...OSS!!