quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ser atleta de karate



 
É difícil de explicar os sacrifícios que um atleta de karate passa.
Parece exagero, parece que quero enaltecer os atletas elevando-os acima do que eles realmente são. Mas não é isso.
A verdade é que é preciso muito mais do que simplesmente querer ser atleta, competir em alto nível, chegar até o topo. É preciso um desejo que beira a insanidade, uma vontade maior do que se pode imaginar. É preciso estar disposto a ir muito além das suas forças, muito além da fé das pessoas ao seu redor.
É enfrentar as adversidades sem se deixar abater, é conviver com as dores, com a descrença, com a incerteza. É estar preparado para treinar durante seis meses, seis dias por semana, deixando de lado prazeres, festas, amigos, correndo o risco de ver a competição acabar em vinte segundos, com um ipon a favor do adversário.
Ser atleta de karate é isso tudo e muito mais.
É deixar a família em casa, enfrentar o olhar triste da esposa, dos pais, ou filhos, para viajar em busca de um objetivo.
É correr atrás de patrocínio e ouvir mais vezes a palavra “não” o que a maioria das pessoas ouve durante toda a vida.
É sentir medo e seguir adiante.
É se cobrar mais do que qualquer pessoa cobraria você, é tentar do fundo do coração chegar o mais longe possível, explorar seus potenciais até o limite, espremer cada gota de capacidade, fazer coisas inacreditáveis.
E ainda por cima ter que responder à pergunta incômoda que ronda a todos nós: “o que você está ganhando com isso?”
Talvez seja difícil de compreender, mas dinheiro não é tudo na vida. Nem fama. E se o karate Tradicional ou JKA não é alvo dos holofotes, nem dá prêmios maravilhosos em dinheiro, e se tudo o que se ganha são medalhas simples, ou muitas vezes absolutamente nada, a satisfação pessoal é imensurável.
Então, tudo valeu a pena, as viagens sem fim, as horas de espera nas arquibancadas desconfortáveis dos ginásios, as lutas duríssimas, as dores constantes.
Então, no fim, ao olharmos para trás, teremos certeza absoluta de que faríamos tudo de novo.
OSS.

2 comentários:

Marcos Piolla disse...

Jayme, tenho amigos no trabalho, que nunca fizeram nenhuma arte marcial (ou esporte) seriamente que brincam comigo pela minha atitude diante das coisas e dizem "O Piolla tem espírito de competidor".

Eu digo que não, mas de certa forma eles estão certos.

Só quem viveu tudo isso que descreveu sabe como é e, pra esses não é preciso explicar. Até porque é uma busca individual...

Na vida VC vai encontrar vários tipos de pessoas e o pior deles é o "âncora". Ele não se move e quer que VC não se mova. É o tipo que tenta te desmotivar, como se isso fosse possível.

Motivação é como educação, agente traz de casa! E aí agente sai arrancando as âncoras do nosso caminho ou até transformando elas em hélices.

Como disse Osaka Yoshiharu Sensei, "Go until saturation then push harder and go beyond".

Esse é o significado de OSS! Suportar a pressão!

OSS!

Jayme Sandall disse...

É exatamente isso, Marquinhos. Você sabe exatamente do que estou falando. Os professores que você teve exprimem exatamente essa essência real do Shotokan. Esse é o sentido real do nosso karate, que muitas pessoas esquecem. Ir além, apenas pela superação. OSS!!