sábado, 18 de dezembro de 2021

XXXII Campeonato Brasileiro de Karate-dô Tradicional 2021

Aconteceu, nos dias 11 e 12 de dezembro de 2021, na cidade de São José dos Pinhais, PR, o 32º Campeonato Brasileiro de Karate-dô Tradicional.

O evento foi organizado pela Federação Paranaense de Karate Tradicional, cujo presidente é um atleta da Seleção Brasileira, Jean Laure.


Jean é um dos principais atletas do Brasil, e integrante da Seleção Brasileira há muitos anos. Esse ano, ele abriu mão de competir - sua grande paixão -, para poder organizar e conduzir o campeonato brasileiro, Foi o sacrifício de alguém que se dedica e trabalha em prol do karate Tradicional!

* Infelizmente não consegui acompanhar as disputas de kata por equipes e enbu, que aconteceram no sábado. Por isso não as descreverei aqui...

FEMININO

O kata individual foi particularmente emocionante. Além das disputas de altíssimo nível, havia uma história particular: a maior campeã de kata de história da JKA do Brasil, a gaúcha Manuela Spessatto, tentava seu primeiro título da modalidade no Tradicional. Manuela foi 10 vezes campeã brasileira de kata individual na JKA, mas no Tradicional jamais conseguira o feito. Depois da aposentadoria de Adairce Castanhetti (MT), simplesmente 21 vezes campeã brasileira de kata individual no Tradicional (um recorde que provavelmente jamais será quebrado), o título do kata se alternou entre as baianas Martinna Rey e Letícia Aragão.

Em 2021, as atletas disputavam décimo a décimo o cobiçado título.

E, pela primeira vez, Manuela conseguiu ser campeã!

É mais um capítulo em uma história repleta de conquistas. A gaúcha ficou muito emocionada, e disse: "foram mais de dez anos tentando esse título!"

O vice ficou com Letícia, e o bronze com a mato-grossense Wildlayne Amarante.

No fukugo, 4 semi-finalistas da Seleção Brasileira. A grande final ficou entre as baianas Martinna Rey, tricampeã da modalidade, e Letícia Aragão, que tentava seu primeiro título na modalidade. Mostrando a mesma agressividade, velocidade e precisão do brasileiro JKA, mês passado, Letícia conseguiu conquistar o ouro inédito..

No kumite individual, Suellen Souza (PR), atual vice-campeã mundial da modalidade, mostrou um domínio impressionante. Calma, lutando com tática e estratégia, ela vencia suas disputas de forma incontestável.

Do outro lado da chave, a atual campeã brasileira JKA, Letícia Aragão (BA), vencia mostrando a mesma agressividade que demonstrou na JKA. Ela tentava unificar os títulos no mesmo ano, algo que seria inédito no feminino.

Suellen, que fora vice-campeã em 2019 (perdeu a final para Sara Ladeira, de São Paulo), montou uma estratégia perfeita, e venceu no detalhe, frustrando a baiana que tentava unificar os títulos. O ouro ficou com a atleta da casa, para alegria da torcida.

No kumite por equipes, o nível das atletas fazia com que cada luta parecesse uma final. 

E na grande final, a Bahia com uma equipe fortíssima, ficou com o ouro lutando contra as gaúchas. Manuela, Cristiane Babinski e Samantha Martelo não conseguiram segurar as baianas, que subiram ao lugar mais alto do pódio.


MASCULINO

No kata individual, o nível estava tão alto que atletas campeões ficavam pelo caminho, sem conseguirem se classificar para as semi-finais.

Felipe Salvaterra (MT), atleta da Seleção Brasileira e campeão de kata por equipes, conquistou o ouro. Seu kata Unsu na semi-final abriu o caminho para que ele se consagrasse como campeão de kata individual e por equipes de 2021.

O carioca Fernando Macedo ficou com a prata, com um Sochin fortíssimo. E o especialista em kumite, Peterson Lozinski, provou que é um atleta completo, ficando com o bronze.

No fukugo, disputas de kumite se alternavam com Kitei kata, com os atletas fazendo perfeitamente a transição entre as modalidades.

Depois de uma luta emocionante, quando empatou literalmente no último segundo, e depois venceu o desempate contra Frank Manera (RS), o mato-grossense Nalberth Aamarante se classificou para as semi-finais.

Do outro lado da chave, o veterano Jayme Sandall (RJ), passava pelas suas lutas de forma contundente. Nas semi-finais, Jayme venceu seu xará, Jaime Jr. (SP) com um Kitei muito firme, enquanto Nalberth vencia Fernando Macedo (RJ) por 3 x 2.

Na grande final, uma disputa de gerações. Nalberth chegava com uma velicidade impressionante e um gyako tsuki tchudan praticamente indefensável. Jayme trazia na bagagem a experiência de mais de 400 lutas oficiais. E, nessa luta, a experiência falou mais alto. Jayme conseguiu um jogai (Nalberth pisou fora da área de luta), e administrou a vantagem para ser bicampeão brasileiro de fukugo (havia conquistado o título em 2014, lutando contra Vladimir Zanca)

No kumite individual, as lutas eram tão fortes que a maioria teve que ser interrompida para a presença do médico. Felizmente, não houve nenhum acidente grave. Mas os golpes, com kime e potência, eram muito contundentes.

Victor Zanca (MT), fez juz ao sobrenome famoso, e, lutando diante do pai, não sentiu a pressão. Fez lutas fantásticas, e demonstrou, acima de tudo, postura de lutador Tradicional, buscando a vitória sempre com lealdade. Jaime Jr. (SP), atual campeão brasileiro e mundial de kumite individual, comprovou o favoritismo e venceu sua chave, se classificando também para as semi-finais.

Jayme Sandall (RJ), em seu último campeonato brasileiro de karate Tradicional, fazendo sua despedida, se classificou para as semi depois de vencer o perigosíssimo Frank Manera (RS), bronze em 2019 e que vencera Matheus Cirillo (SP) na rodada anterior.

A última vaga das semi ficaram com o veterano de Seleção Brasileira e bicampeão mundial por equipes, Vinícius Moreno (MT). Na final da sua chave, ele venceu uma verdadeira batalha contra Peterson Lozinski (SP)

Nas semi-finais, Jaime Jr. venceu Victor Zanca e tentaria o bicampeonato da modalidade. Na outra semi, Jayme Sandall foi derrotado por Vinícius Moreno, em uma reedição da final do campeonato panamericano de 2013, quando Vinícius também venceu. Essa foi a despedida de Jayme Sandall das competições de karate Tradicional.

Faço aqui um relato pessoal:

Uma história que começou em 1995, no campeonato estadual de karate Tradicional, terminou em 2021 no campeonato brasileiro. Um ciclo se encerrou. Curiosamente, sua primeira luta foi uma derrota, e sua última luta também. Início e fim com derrota, em uma carreira recheada de vitórias e derrotas, dramas e sucessos, mas acima de tudo repleta de histórias e experiências.

Me senti dividido nesse campeonato. Ansioso, animado, doido para lutar. Mas também com uma ponta de tristeza e melancolia, por saber que era a última luta de campeonato brasileiro de karate Tradicional.

Não a última luta da carreira, ainda não. Pretendo tentar ser convocado para o Campeonato Panamericano da JKA e encerrar de vez minha carreira lutando pela Seleção Brasileira.

Foi uma jornada cheia de altos e baixos. Na verdade, jamais imaginei que chegaria tão longe, apesar de ter sonhado com isso. Sonhei com cada vitória, cada título que conquistei. Mas quando os sonhos começaram a virar realidade, fiquei sem acreditar. No fundo, dei muita sorte. Treinei muito sim, acho que mais do que a média. Mas mesmo assim tem que haver o fator sorte. Em especial, sorte para não me lesionar, sorte para conseguir superar uma cirurgia complicada no ombro, que quase encerrou precocemente minha carreira. Sorte de ter a oportunidade de lutar por tanto tempo.


Seguindo no campeonato...

Na grande final, Vinícius Moreno derrotou Jaime, evitando que ele conquistasse o bi. E, apesar de ser um super atleta, bicampeão panamericano individual e bicampeão mundial por equipes, Vinícius jamais havia vencido o campeonato brasileiro de kumite individual. E era seu sonho, seu maior objetivo. Esse ano, ele finalmente conseguiu, com todos os méritos, e se consagrou campeão brasileiro de kumite individual!

No kumite por equipes, Mato Grosso e São Paulo estavam na grande final. Infelizmente, na segunda luta da disputa, Matheus Cirillo acertou um kizami que pegou no pescoço de Victor Zanca, e isso acarretou na desclassificação da equipe de paulista. Mato Grosso campeã brasileira, depois de passar pelo Paraná e pelo Rio de Janeiro, e de vencer São Paulo na final.

Parabéns a todos, da organização aos árbitros, passando pelos atletas e pelo público presente. Foi uma verdadeira festa de confraternização do karate Tradicional.

** CASO ALGUÉM QUEIRA COPIAR ESSA MATÉRIA, FAVOR PEDIR PERMISSÃO PELO EMAIL sandalljayme@gmail.com

OSS!


RESULTADOS

Feminino

- Kata individual: 1) Manuela Spessatto (RS) / 2) Letícia Aragão (BA) / 3) Wildlayne Amarante (MT) / 4) Carolina Zampa (RJ)

- Fukugo: 1) Letícia Aragão (BA) / 2) Martinna Rey (BA) / 3) Sara Ladeira (SP) - 3) Suellen Souza (PR)

- Kumite: 1) Suellen Souza (PR) / 2) Letícia Aragão (BA) / 3) Carolina Zampa (RJ) - 3) Cristiane Babinski (RS)

- Kumite por equipes: 1) BA / 2) RS / 3) MT - 3) SP

- Kata por equipes: 1) BA / 2) MT / 3) RS


Masculino

- Kata individual: 1) Felipe Salvaterra (MT) / 2) Fernando Macedo (RJ) / 3) Peterson Lozinski (SP) / 4) Augusto spessatto (RS)

- Fukugo: 1) Jayme Sandall (RJ) / 2) Nalberth Amarante (MT) / 3) Fernando Macedo (RJ) - 3) Jaime Jr. (SP)

- Kumite: 1) Vinícius Moreno (MT) / 2) Jaime Jr. (SP) / 3) Jayme Sandall (RJ) - 3) Victor Zanca (MT)

- Kumite por equipes: 1) MT / 2) SP / 3) RJ - 3) BA

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