O esporte traz grandes benefícios para as lutas de uma forma geral, e isso é inegável.
Aumenta o número de praticantes, estimula os lutadores a treinarem até o limite, difunde a arte marcial pelo mundo, permite que pessoas de diferentes partes do mundo se enfrentem, entre outras coisas.
Mas também traz alguns aspectos negativos, como a drástica diminuição na quantidade de golpes utilizados, consequentemente podando várias técnicas da luta (dificilmente se vê um atleta de karate utilizando joelhadas, cotoveladas, ou téncicas de torção, presentes nos nossos katas, por exemplo). As regras também acabam criando situações estranhas, como atletas que vencem, sagram-se campeões, apanhando.
As nuances da regra produzem aberrações, em todas as artes marciais que se utilizam do sistema de pontos, pois a marcação acaba sendo subjetiva. E, uma vez que advertências podem gerar pontos para os adversários, cria-se lutadores que se acostumam a vencer sem pontuar, ou seja, sem bater.
Entretanto, talvez a pior característica que um atleta de karate pode adquirir é a falta de respeito com seu adversário, ferindo frontalmente os princípios da arte marcial. Faz parte do Dojo Kun o lema “Respeito acima de tudo”. E isso, por muitas vezes, é completamente esquecido nos kotos de competição.
Na Tailândia, no último Mundial da JKA, a equipe brasileira pegou de cara a África do Sul, uma das maiores pedreiras do mundo. Muito nervosos, conseguimos vencer, mas nossa postura fora do kotô foi repreensível, pois gritamos, torcemos, comemoramos cada vitória. Ao final do combate, felizes, vimos que nosso técnico, sensei Machida, não estava com cara de quem tinha gostado.
“Venham aqui!”, ele chamou.
“Vocês não podem fazer isso! Ficar torcendo, gritando. Só o técnico pode falar, ninguém mais. E também não quero ver ninguém comemorando golpe, comemorando vitória dentro do koto. JKA não é esporte! JKA é Budô! É luta de samurai!”
Aquilo mexeu demais comigo, pois eu era um dos que estava comemorando, gritando, torcendo.
O que estava acontecendo com todos nós? Será que uma competição, por maior que seja, serve de desculpa para que simplesmente esqueçamos as regras de conduta que aprendemos lá atrás, ainda na faixa branca?
Há um motivo para se escolher o karate Tradicional, o karate JKA. E sensei Machida, em poucas palavras, definiu exatamente esse motivo.
Karate JKA não é esporte. É Budô.
Muito mais importante do que a medalha, foi o ensinamento do sensei Machida, que nos trouxe de volta à realidade, e nos mostrou o caminho correto.
Vencer a qualquer custo é premissa do esporte. Fazer firula, fingir, importando-se mais com a vitória do que com a honra. Desrespeitar o adversário, brincar com ele, fazer graça – como vemos tanto no MMA, boxe, futebol, basquete... Isso pode existir no esporte. Mas jamais na arte marcial. Jamais em uma luta onde se aplica o Budô.
Se a luta que escolhemos foi o karate, e dentro disso nos identificamos com o karate Tradicional / /JKA, então temos que agir de acordo, sem exceção.
O mesmo se aplica à torcida. Vaiar, xingar, caçoar, gritar no meio de uma execução de kata ou de uma luta, é errado. O exemplo deve começar pelos atletas, professores, dirigentes, e se estender ao público, aos amigos e familiares.
Afinal, “Karate JKA não é esporte! Karate JKA é Budô!”
OSS.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
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3 comentários:
Fiquei feliz por voce ter copreendido o que o mestre Machda falou. Sou filiado a CBK, e o que vejo nas competições pelo Brasil e exatamente o que voce descreveu, cabe a nos que nos importamos com esta nobre arte, inserir de maneira contudente o Budô em nossos treinamentos e trazer para a filosofia do karatê os atletas que dela se deviam.
Oss.
Sinézio
Belém-PA
Vc esta certissimo Jaime, porem, duvido muito que isso possa mudar. Ja havia acontecido antes no Sul Americano em Belem, quando Sensei Ugo repreendeu severamente o Zanca. Adiantou alguma coisa?
Brasileiro é mal educado mesmo, por natureza.
Precisamos de uma revoluçao para mudar as coisas por aqui. Por essas e outras é que prefiro estar longe disso tudo, apesar de torcer por vcs, sempre.
Pois é Sinézio, a gente ganha muito se consegue absorver alguma coisa desses grandes mestres, como snesei Machida. Infelizmente em TODAS as federações e organizações a postura parece estar ficando em segundo plano...
Grande sensei Roberto... a coisa às vezes parece mesmo que vai degringolar, e chega a ficar desanimadora. Mas não podemos desanimar, não podemos desistir do karate correto, e isso inclui postura. Enquanto um, apenas um lutador tiver a postura do BUDÔ, ainda teremos esperança....OSS
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