segunda-feira, 26 de outubro de 2009

V CAMPEONATO SULAMERICANO JKA 2009

O Brasil, sempre no pódio
A medalha

A equipe de kumite: Vinícius Moreno, Clésio Maciel, Rafael Moreira, Jayme Sandall, Fábio Simões, Wagner Pereira e César Cabral.



Orguho de ser brasileiro!
Nesses tempos de políticos corruptos e péssimos exemplos em todas as camadas da sociedade, às vezes dá até uma certa vergonha do nosso povo. Mas é só a seleção brasileira jka se reunir, pisar nos kotos para competir, que um sentimento de orgulho aflora. Orgulho de ser brasileiro.
Desde os pequeninos, com destaque para João Gabriel, do Pará, campeoníssimo do kumite individual, e que “mordeu” os adversários, atropelando todo mundo, passando pelas meninas da equipe 15-16 anos, pelos garotos do 15-16 que deram espetáculo – destaque para Thiago (RJ), que cravou 2 x 0 no chileno, na final – e pelos adultos, foi a melhor apresentação brasileira que já vi em sulamericanos.
Resultado não é tudo, principalmente em se tratando da arbitragem que vimos lá na Argentina, mas disso prefiro nem falar.
A postura dos brasileiros foi irrepreensível.
Entre as mulheres, dois terceiros lugares no kumite individual, com Manuela Spessato (RS) e Bruna Andrade (SP), e na equipe, simplesmente o tricampeonato sulamericano (2002/08/09). Completaram a equipe Marina Brito (atual campeã, mas que sofreu uma ruptura num ligamento do joelho, e por isso não pôde lutar 100 %), e Sônia Coutinho (campeã individual em 2005)
No kata individual feminino, mais uma vez deu Manuela Spessato. A gaúcha estava inspirada, e deu show com Gojushiho Sho.
No kata por equipes masculino, a fortíssima equipe brasileira, composta pelo mestre Rousimar Neves (MG) e seus alunos Bernardo e Fernando, infelizmente não conseguiu render tudo o que poderia, e ficou com a prata. É muito, mas é pouco para o nível dessa equipe, que poderia ter sido campeã com folgas. Mérito dos argentinos, que mereceram a vitória.
No kata individual, deu a lógica, e venceu pela terceira vez o argentino Cristian Salvemini, deixando Júlio Teixeira (SP) com a prata. José Renato (BA / RJ), debutante em competições pela Seleção Brasileira, ficou em quinto lugar, e fez um So Chin fortíssimo na final, honrando seu mestre, Enobaldo Athaíde, o “rei” do So Chin. Parabéns!
Bem, falar de kata sem falar do que houve nas eliminatórias seria injustiça com Andrew Marques (SP). Sem nenhuma parcialidade, ele fez um kata na eliminatória contra Salvemini que foi de arrepiar. No primeiro kata, os dois niveladíssimos: empate. Antes do desempate, uma cena, no mínimo, chata. Sensei Enoue entrou no dojo e mandou reunir os árbitros. Não acho que ele tenha dito nada para prejudicar o brasileiro, mas a simples presença do nome forte do karate jka sulamericano (e argentino) foi suficiente para desequilibrar a balança. Resultado, no novo kata (que Andrew fez melhor do que Cristian), vitória por 3x1 para o argentino. Uma pena.
Mas na final, Cristian realmente foi o melhor, com seu Gojushiho Sho. Muito bom mesmo. O cara realmente manda bem. Fazer o quê?
No kumite inividual, quanta honra! Honra de fazer parte desse grupo. Ninguém, mas ninguém mesmo, destoou nem um centímetro. TODOS os brasileiros lutaram lindamente, e perderam no detalhe. Cabral, com sangue nos olhos, devolveu a derrota sofrida no ano passado para Marcelo Monzon (Argentina), e sinalizou ao final da luta, indicando que estava um a um. Depois perdeu dando um kyzami-bomba em outro argentino, mas o gyako do sujeito parece ter entrado primeiro. A cabeça do gringo balançou bonito para trás...
Clésio fez uma excelente primeira luta, despachando um uruguaio experiente. Depois, pegou o temido Jorge Rivas (Argentina), campeão individual em 2007, com sobras. Pois é... não é que o atleta do sensei Paulo Bartolo (Santos) fez um wazari limpinho, e quase leva a luta. Nos segundos finais o gigante argentino empatou com um kyzami, e na luta de desempate, acabou levando a melhor. Linda luta!
Wagner Pereira (SP) pegou uma argentino muito chato de se lutar, e que tinha ganho de Chinzô Machida (PA) em 2005, no Brasil. Perdeu, e parecia ter entrado um tanto desatento. Falamos mais do Wagninho mais tarde...
Vinícius Moreno (MT) honrou o Estado de Zanca e estreou na Seleção da jka vencendo um paraguaio bem rápido. Na luta seguinte, pegou o temidíssimo Salvemini, considerado invencível na América do Sul. Creio que ele não perdia uma luta no continente (entre campeonatos argentinos e sulamericanos) desde 2005. Bem, sem tomar conhecimento de todo esse currículo, Vinícius tratou de cravar um gyako tchudan que explodiu na barriga do gringo: 1x0. Salvemini empatou,e depois virou num golpe que a meu ver pegou ao mesmo tempo que o de Vinícius (kyzamis simultâneos). Mesmo assim, foi o matogrossense que abriu o caminho, e mostrou que Salvemini não era tão invulnerável assim...
Eu tomei um wazari logo de cara contra o experiente Jaime Daza (Chile). Sem me afobar, consegui virar a luta. Ufa... depois venci um argentino e lutei contra o Gastón Gomes (Argentina) para decidir quem ficaria entre os oito melhores da América do Sul. Foi uma luta parelha, e ele fez um wazari de deai no meio de um mawashi tchudan. 1x0 e fim de papo.
Rafael (RS) pegou uma pedreira logo de cara, o chileno Julio Silva, um dos melhores da equipe, que vencera Gastón na disputa final por equipes de 2008. Bem ao estilo Rafael Moreira, ele deu um ashi barai que jogou o chileno gente fina de cabeça no chão: ipon. Depois atropelou Javier Acosta e Emmanuel Volpi, dois argentinos, e só foi parado por Fábio Simões, que, lutando do jeito “Fabinho” de sempre, vencia as suas lutas do lado de lá da chave. Os dois ficaram entre os oito melhores (Rafael pela quarta vez), e o paulista levou a melhor, indo para a semi-final, vencendo por 1x0 o duelo brasileiro. Em seu caminho, Fabinho virou uma luta no finalzinho contra um uruguaio na primeira rodada, e venceu bem contra um argentino muito técnico na segunda. Depois de passar por Rafael, fez uma semi parelha contra Jorge Rivas, perdendo por 1x0. Por pouco...
Na final, um Jorge Rivas meio fora de forma, que nem de longe lembrava o excelente lutador de 2007, venceu mais na catimba do que na técnica o muito superior Gastón Gomes, e sagrou-se bi.
E o todo-poderoso Cristian?
Bem, para surpresa geral, ele perdeu para um chileno muito rápido e esperto, nas quartas-de-final, levando um gyako tchudan de contra-ataque. O chileno perdeu para Gastón na semi.
No final, a disputa por equipes. Brasil x Paraguai, e 5x0 sem maiores dificuldades para os brasileiros. A equipe na ordem em que lutou: Jayme Sandall, Vinícius Moreno, Fábio Simões, César Fagundes Cabral e Rafael Moreira.
A semi, na verdade, foi uma final antecipada. Brasil x Argentina. Todo mundo parou para ver a disputa entre os maiores rivais no koto central.
A ordem da equipe foi alterada, numa jogada inteligente dos técnicos Ugo Arrigoni e Enobaldo Athaíde. Wagner Pereira abriu a série contra Cristian.
Bem, se Wagninho entrou meio desligado no individual, na equipe ele seguiu o conselho do sensei Sasaki, e ficou mais do que ligado. O argentino mexeu, e levou um kyzami que deve até agora estar se perguntando de onde veio. Wazari lindo. Wagner, quando inspirado, é o lutador de tempo mais afiado que já vi lutar em minha vida. Sem exageros. No lance seguinte, Cristian entrou, e levou um deai de gyako, no peito, que fez com que caísse sentado no chão. Mas para surpresa e decepção geral... a arbitragem viu ponto do argentino. Que pena. Wagner merecia essa vitória. No finalzinho da luta, o excelente karateca argentino virou com mãe geri/kyzami que realmente entrou: 1x0 Argentina.
Rafael entrou contra Gastón, muito inspirado esse ano. Perdeu de 1x 0, no detalhe.
Fabinho pisou no koto com a seguinte responsabilidade: se perdesse, a disputa estaria encerrada, pois a Argentina faria 3x0. Mas o aluno de Kazuo Nagamine (preparador físico e mental de Lyoto Machida) usou toda a sua catimba e experiência para vencer Marcelo Monzon por 1x0.
Entrei sabendo que se perdesse estaria tudo terminado. Confesso que prefiro abrir a disputa, ser o primeiro a lutar, mas me senti confortável sendo o quarto. Peguei Matias Sanchez, que ficou entre os oito melhores no individual. Magro, rápido e técnico, ele entrou para empatar, pois recuava e girava o tempo todo. Felizmente consegui achar a distância para meter um kyzami: wazari. Engatilhei meu deai, e ele percebeu, porque não entrou. Venci, e o Brasil fez 2x2.
Vinícius (MT) entrou para decidir contra o campeão individual, Jorge Rivas. Para tristeza da torcida brasileira, Jorge fez um wazari e montou na bicicleta: fugiu o resto do tempo de um Vinícius valente, que honrou a bandeira brasileira. Perdemos por 3x2.
No final, orgulho de ter feito parte dessa equipe.
Agradecimentos especiais aos árbitros brasileiros, imparciais e justos, e aos dirigentes e técnicos, que trabalharam demais, e estiveram presentes em todas as disputas, sem exceção.
Até o ano que vem, no Pará!
OSS!

* fotos oficiais do evento no site http://www.wsfotografias.com.br/

** um clipe no youtube, editado por Murilo Brito, mostrando lances do sulamericano. Vale conferir: http://www.youtube.com/watch?v=FN7sZv1qOi8&feature=email

Nenhum comentário: